O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, confirmou hoje que o Brasil foi sondado pelo governo dos Estados Unidos para receber presos libertados da prisão de Guantánamo, em Cuba, sob acusação de terrorismo. A informação foi revelada com a divulgação da correspondência de diplomatas americanos pelo site WikiLeaks. O ministro não soube precisar o período em que a sondagem foi feita, mas confirmou que a recusa foi determinada por ele, pessoalmente.
“Lembro de terem me consultado e eu ter achado que não era conveniente. O mais normal seria, se são inocentes, encontrarem de volta seu caminho na vida”, disse o ministro em evento no Palácio Itamaraty, no Rio. O ministro afirmou não se lembrar exatamente do impedimento legal de receber os presos como refugiados e citou como um dos inconvenientes o fato de eles terem sido acusados de terrorismo.
Amorim disse não ter lido atentamente os jornais sobre as ações do WikiLeaks, e minimizou o impacto das revelações para a diplomacia mundial. “Vamos ser francos: ali não tem nada ‘top secret’ (ultra secreto). Tem muita coisa que a gente já sabia ou que são interpretações subjetivas de agentes diplomáticos que valem pelo que são”, disse o ministro.
Amorim disse que as correspondências não revelam, por exemplo, planos estratégicos dos Estados Unidos para as áreas de conflito como o Iraque e Afeganistão. O ministro ressaltou, no entanto, ter gostado de saber da correspondência da embaixada americana em Honduras para os Estados Unidos classificando a queda do ex-presidente Manuel Zelaya como um golpe de Estado.
Por fim, Amorim afirmou que a interpretação dos diplomatas americanos sobre uma suposta postura antiamericana do Itamaraty não é uma novidade e não tem relação direta com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo Amorim, a chancelaria é sempre vista com desconfiança.
Sobre a declaração que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, teria dado ao embaixador americano sobre a postura antiamericana do ministro Samuel Pinheiro Guimarães (Assuntos Estratégicos), Amorim disse confiar no desmentido de Jobim. “Entre a palavra do ministro Jobim e a do agente diplomático americano, fico com a de Jobim”, afirmou.