A decisão de Israel de manter a construção de mais 1.600 residências no território palestino de Jerusalém Oriental não chegou a minar a confiança da Autoridade Nacional Palestina (ANP) na retomada do processo de paz. A avaliação é do chanceler Celso Amorim, em Belém, depois do encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Mahmoud Abbas, da ANP.
As conversas de hoje, entretanto, não foram conclusivas. Ficou para amanhã, em Ramallah, a discussão entre Lula e Abbas sobre as divisões entre facções palestinas e a necessidade de unidade.
Questionado sobre o estado geral das negociações, Amorim afirmou que o anúncio das 1.600 novas residências israelenses em Jerusalém Oriental afetou negativamente as negociações e gerou a crise de Israel com os EUA. Mas não se traduziu em “desespero” por nenhum dos lados. “Isso foi elemento de choque pra todo mundo. Mas não houve sensação de desespero e de abandono”, afirmou o chanceler.
De acordo com Amorim, tanto Mahmoud Abbas como o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o presidente de Israel, Shimon Peres, mostraram-se empenhados na retomada das negociações de paz, com “graus variados de otimismo” com relação aos resultados.
Para o assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, esse é um dos pontos de divergência que “existia antes, persiste e terá de ser trabalhado”.
Entretanto, o pronunciamento no Parlamento israelense, na segunda-feira, provocou mal-estar na delegação brasileira e a nova reação de Washington. Outro constrangimento absorvido por Lula em Israel foi a reação do ministro do Exterior de Israel, Avigdor Lieberman, à pretensa recusa do presidente brasileiro de fazer uma homenagem na tumba de Theodore Herzl, líder sionista. Segundo Garcia, tratou-se de uma resposta à negativa de Lula em recebê-lo separadamente.
Muro
Em discurso a cerca de 120 empresários brasileiros e palestinos, Lula afirmou que o Brasil “nunca esteve tão interessado em uma solução do conflito entre israelenses e palestinos como agora” e defendeu a necessidade de “tirar todas as pedras” para a negociação se desenrolar. Também reiterou que vai ajudar na busca de “novos mediadores” – como o próprio Brasil – e de estimular uma conversa que abarque “todos os envolvidos” – como o Irã e Síria. Ao se dirigir à noite ao Palácio Presidencial da ANP, qualificou-se como um “otimista inveterado” e completou que acredita até mesmo na vitória do Corinthians.
Ao lado do primeiro-ministro, Salam Fayyad, no seminário empresarial, Lula levantou a bandeira da derrubada do muro construído por Israel nas suas fronteiras com o território da Cisjordânia. “A derrubada do muro será apenas o primeiro passo para reverter a asfixia da Palestina”, defendeu o presidente, para acrescentar em seguida que essa muralha desarticula a produção interna, afasta o investimento e impede o desenvolvimento sustentável da Cisjordânia e de Gaza. “O Brasil está comprometido com o fim desse conflito.”