Será que o amor, em especial o romântico, pode sobreviver à morte de um dos amados?
Para investigar esse tema, é preciso constatar que o amor romântico é fruto de uma vasta mistura de emoções e desejos difusos. Ou seja, para que esse amor exista, faz-se necessária a combinação de vários fatores ligando duas pessoas. E é justamente porque pessoas, emoções e desejos mudam ao longo do tempo que o amor também sofre inevitáveis mutações. Do calor da paixão dos primeiros anos até a terna amizade sensual da velhice (isso quando ele sobrevive ao tédio e às frustrações do dia-a-dia). Mas o traço que realmente define esse amor é a coexistência de uma ligação física e emocional.
Sem isso não há amor.
Por essa razão, quando morre um dos amados, aquele que ficou passa a amar apenas as lembranças da vida em comum e não mais a própria pessoa que se foi, porque o corpo, objeto supremo do amor romântico, não mais existe. A morte torna o amor irrealizável, porque o transforma apenas em lembranças, quase sempre somente boas, já que é da essência humana idealizar o próprio passado. O amado sobrevivente pode até esconder-se na própria dor, jurando amor eterno ao falecido. Entretanto, receio que isso seja apenas um reflexo do legítimo medo de amar de novo: seja para não sofrer nova perda; seja para não assumir o peso das concessões que todo amor exige.
Djalma Filho é advogado
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