Foto: Aliocha Maurício
Enid chegou a vender bens
para ajudar os animais.

O amor de algumas pessoas pelos animais é tanto que elas não se importam em dedicar grande parte de seu tempo ou mesmo de suas vidas a eles. Dentro de organizações não-governamentais (ongs) de defesa dos direitos dos bichos, pessoas lutam de forma incansável em favor da posse responsável e contra os maus tratos, abusos, exploração e abandono.

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Em Curitiba, são diversas as pessoas que abraçam a causa dos animais. Muitas, além de realizarem serviços em ONGs, recolhem por iniciativa própria bichos abandonados ou mesmo tiram dinheiro do próprio bolso para tratá-los e alimentá-los.

Proteção

Uma das pioneiras na defesa dos direitos dos animais na capital é a diretora da Sociedade Protetora dos Animais Enid Bernard que tem 73 anos de idade. Antes da fundação da sociedade, há 37 anos, ela trabalhava como advogada e professora do curso de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Com o surgimento da instituição do terceiro setor, começou a prestar, de forma voluntária, orientações jurídicas a respeito de animais abandonados.

?Vi que as orientações não eram suficientes e comecei a trabalhar também com a oferta de atendimento na área de Medicina Veterinária, contando com o trabalho de veterinários voluntários. Me aposentei como advogada há doze anos e desde estão me dedico integralmente à sociedade. Os animais atendidos por ela são a minha vida?, afirma.

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A paixão de Enid pelos animais teve início na infância. Ela foi criada numa fazenda e diz que desde pequena aprendeu com os pais que deveria respeitar a todos os seres vivos, mesmo que estes fossem simples formiguinhas. O sentimento é tanto que, há alguns anos, a ex-advogada abriu mão de uma herança de família em prol da Sociedade Protetora dos Animais. Vendeu bens bastante antigos e investiu o dinheiro na compra de uma nova sede para a instituição.

?A nova sede tem 16 mil metros quadrados e fica localizada no Contorno Norte, no município de Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba. A sociedade deve se mudar para lá em breve, possibilitando maior bem-estar aos animais que abriga. Deixei de aplicar o dinheiro gasto em mim e em minha família, mas não foi um sacrifício e meus três filhos não acharam ruim?, conta.

SOS

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Outra que se dedica à causa há bastante tempo é a presidente da SOS Bicho, Rosana Vicente Gnipper, que tem 51 anos, é formada em Psicologia e já atuou como pianista e mesmo professora de piano. Originária do Estado de São Paulo, ela vive na capital paranaense há 16 anos, trabalhando em prol dos animais há cerca de dez, desde que fundou a SOS. Nela, o gosto pelos bichos também é um sentimento que vem de berço.

?Minha família sempre teve muitos animais em casa. Fui criada com eles. Pouco tempo depois que cheguei em Curitiba, comecei a recolher cães e gatos abandonados das ruas e levá-los para minha casa. Entretanto, chegou uma hora que eu não tinha mais espaço para abrigá-los e vi que o que eu estava fazendo não era suficiente para resolver o problema dos animais. Comecei a trabalhar com esterilização com uma outra ong e logo depois criei a SOS?, revela.

Atualmente, o foco de Rosana está na posse responsável, dedicando a ela quase todo o seu dia. Através da organização, Rosana procura conscientizar as pessoas de que é preciso pensar muito antes de adquirir um animal de estimação, que gera despesas e, assim como os seres humanos, sente dor, frio, fome, medo e tristeza. Para se manter e poder continuar trabalhando em favor dos bichos, Rosana fabrica e vende pães e produtos integrais.

?Trabalhar com o ser humano em favor do bicho é o que gosto de fazer e o que me dá prazer na vida. É triste ver um animal abandonado ou maltratado, mas aprendi que tenho que deixar meus próprios sentimentos de lado para continuar atuando. Transformo a revolta que sinto quando vejo alguém fazer alguma maldade contra um animal em amor para fazer alguma coisa positiva pelo bicho. Para isso, utilizo muito do que aprendi com a Psicologia.?

Histórias parecidas de defesa de uma causa

Foto: Lucimar do Carmo
Júlia Misga, de 45 anos, criou a
ONG Amigo Animal e mantém
cerca de 1.500 cachorros.

A história do casal Ernani Guarise, de 47 anos, e Sandra Moreira da Cruz Pacca, de 52, criadores da entidade Associação Vida Animal, não é muito diferente. Há cerca de onze anos, eles adquiriram um sobrado no bairro Santa Cândida, em Curitiba. Ao se mudarem para o local, acabaram ficando responsáveis por quatro cães abandonados que ali eram mantidos pelos pedreiros responsáveis pela construção do imóvel. Tempos depois, outros animais abandonados foram aparecendo na região e o casal foi os adotando. Há seis anos, Ernani e Sandra perceberam que o sobrado já estava pequeno para manter tantos bichos e que eles estavam gerando reclamações dos vizinhos. Então, adquiriram uma chácara em Colombo, onde hoje são mantidos 430 cachorros.

?A gente tem muita pena dos animais sem dono. Notamos que, de um ano para outro, um número cada vez maior de bichos é abandonado pelas pessoas. Só no final do último ano, jogaram na nossa porta quarenta filhotes de cães. Já não temos mais condições de manter tantos indivíduos?, diz Ernani. Oitenta por cento das despesas com rações e medicamentos necessários aos moradores da chácara são arcadas pelo próprio casal, sendo que os 20% restantes são frutos de doações. Formada em Belas Artes, Sandra deixou de trabalhar em sua área para se dedicar exclusivamente aos bichos. Já Ernani atua como representante autônomo para dar conta das despesas. Todos os animais abrigados pelos dois são castrados.

Amiga

Há cerca de quinze anos, a protetora dos animais Júlia Misga, 45, trabalhava em uma clínica veterinária de Curitiba. No dia-a-dia, ela se comovia com cães que eram abandonados no local ou deixados para eutanásia. Triste em função da situação dos bichos, ela começou a levá-los para sua casa, no bairro Fazendinha. ?Eu dizia para o proprietário da clínica que iria arrumar um dono para os animais e os levava para minha casa. Fiquei com tantos cães, que muitas pessoas, ao ver que eu gostava deles e os tratava bem, começaram a abandonar mais bichos em minha porta.?

Há oito anos, Júlia transferiu os animais para uma chácara no município de Campo Magro e, há seis anos, fundou a ONG Amigo Animal, que hoje mantém, através de doações, 1.500 cães. Ela divide seu tempo entre os bichos e o filho Mateus, de cinco anos de idade. Este já começa a herdar da mãe o gosto pelos animais. ?Meu filho, apesar de pequeno, já me ajuda bastante com os cães, colocando ração para eles e alimentando os filhotes. Espero que, no futuro, ele assuma o meu lugar. Tento ensinar a ele que Deus fez a natureza para que nós cuidássemos e os animais fazem parte da natureza. Não podem ser maltratados e abandonados.? (CV)