Os números não negam. Os Estados Unidos estão entre os cinco países que mais recebem imigrantes todos os anos – em 2004, foram 800 mil que entraram legalmente, fora os clandestinos, maioria absoluta. Grande parte dos imigrantes busca melhores oportunidades de emprego para juntar dinheiro, mas há também aqueles que procuram alternativas educacionais ou simplesmente têm o desejo de conhecer uma cultura diferente. São esses os que geralmente entram legalmente. Estima-se que o número de imigrantes brasileiros vivendo nos Estados Unidos, clandestinamente ou não, ultrapasse a barreira de 1 milhão.
?Infelizmente, a grande maioria – algo em torno de 80% – dos brasileiros está em situação ilegal. Já atendi a milhares de casos de brasileiros detidos na fronteira com o México ou que são descobertos na clandestinidade?, diz o advogado Max Whitney, um dos dez únicos brasileiros que se formaram em Direito nos Estados Unidos e atuam naquele país. Há mais de 30 anos na terra do Tio Sam, ele atua na área de imigração, mas também já defendeu brasileiros em diversas cortes por outros crimes. ?As leis nos Estados Unidos são muito severas e muitos brasileiros, mesmo os que vivem legalmente no país, não as conhecem. Jogar papel na rua, por exemplo, pode render multa de US$ 250?, diz Whitney.
Os anos de experiência na defesa dos imigrantes acabaram virando fonte de inspiração para o livro Como entrar e permanecer legalmente nos Estados Unidos, um manual completo sobre o funcionamento das leis, dos conceitos, da cultura e da história do país.
?Lá, as leis são para todos. Um exemplo recente foi o julgamento de Michael Jackson, que foi ao tribunal mesmo sendo um dos homens mais famosos do país. Se fosse condenado, ele iria para a cadeia?, cita o advogado.
Perigos
Apesar de o livro trazer no título a proposta da legalidade, ele traz muitos alertas para os perigos de se entrar clandestinamente nos Estados Unidos. De novembro do ano passado a maio deste ano, nada menos que 15 mil clandestinos foram detidos na fronteira. ?A maioria dos imigrantes clandestinos atravessa a fronteira com o México, o modo mais perigoso. Os coyotes, pessoas que promovem a travessia ilegal, fazem também tráfico de drogas e armas. São criminosos?, alerta. Pior que o envolvimento com o crime, eles muitas vezes abusam sexualmente das mulheres que escolhem este caminho para entrar nos EUA. ?Uma vez atendi uma mulher no hospital, que quase morreu em decorrência da violência sexual e dos maus tratos.?
Além da travessia fronteiriça, uma pequena parcela entra legalmente nos Estados Unidos como turista e permanece ilegalmente. Há ainda aqueles que forjam casamentos com norte-americanos apenas para obter o green card (visto de permanência). ?Todas essas formas são arriscadas, mas muito praticadas. Para se ter uma idéia do quadro da mão-de-obra nos Estados Unidos, 25% dos prestadores de serviços são clandestinos?, afirma Whitney.
A maior motivação dos imigrantes é, sem sombra de dúvidas, a busca de melhores oportunidades. Engana-se quem pensa que o quadro de brasileiros é composto por pessoas de escolaridade baixa. ?A maioria dos clandestinos tem curso superior e até pós-graduação e se submete a serviços como garçom ou camareira porque não tem oportunidades no Brasil. É a dura realidade.?
Os norte-americanos, apesar da impressão de que vêem na mão-de-obra do imigrante uma concorrência, estão cientes de que a proporção de imigrantes no mercado de trabalho é tão grande, que hoje a economia dos Estados Unidos sofreria um baque caso todos os clandestinos fossem deportados.
Por isso, mesmo com o aperto no cerco da entrada de imigrantes no país após os atentados de 11 de setembro de 2001, o governo dos EUA estuda um modo de tirar os imigrantes da clandestinidade. ?Eles são peças fundamentais na engrenagem econômica do país e o governo sabe disso.? Uma prova contundente é que há um ano e meio, o presidente George W. Bush lançou um projeto de lei e, há dois meses, o senador Edward Kennedy também propôs uma lei para o Estado de Massachusetts, que visam regulamentar a situação dos ilegais. ?É a medida cabível para tornar a vida dos imigrantes mais digna.?