Os primeiros carregamentos de alimentos, medicamentos e outros itens doados pelas Nações Unidas (ONU) e pela Cruz Vermelha para as vítimas do ciclone Nargis, que atingiu Mianmar (antiga Birmânia) no último sábado (3), começaram a chegar neste sábado (10) ao país. O ciclone deixou pelo menos 60 mil mortos (23 mil, segundo dados oficiais da junta militar que governa Mianmar) e 2 milhões de desabrigados.

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Em Genebra (Suíça), o Comitê Internacional da Cruz Vermelha anunciou que seus primeiros dois aviões com ajuda para as vítimas do ciclone partiram para Mianmar neste sábado, um deles com 35 toneladas de carregamentos a partir de Genebra e outro de Bridisi, na Itália, com 30 toneladas.

Segundo a porta-voz do Escritório de Coordenação de Ajuda Humanitária da ONU, Elisabeth Byrs, há 23 agências internacionais envolvidas no fornecimento de ajuda para as vítimas do ciclone, mas muitas delas ainda aguardam permissão da junta militar para que enviem mais ajuda e para que seus funcionários e voluntários entrem em Mianmar. "É uma corrida contra o tempo. Se a ajuda humanitária não chegar ao país em grande escala, há o risco de uma segunda catástrofe, com pessoas morrendo por causa de fome e doenças", disse Byrs.

O porta-voz da Cruz Vermelha, Marçal Izard, disse que os primeiros embarques de ajuda humanitária da organização para Mianmar se destinam aos campos de trabalhos forçados, onde estão internados milhares de presos políticos. Izard disse não saber quantos deles foram vitimados pelo ciclone.

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Já o representante do Alto Comissariado da ONU para Refugiados na vizinha Tailândia, Raymond Hall, disse que dois caminhões do órgão com 18 toneladas de ajuda humanitária receberam permissão para entrar em Mianmar hoje. "Esse comboio representa um passo positivo no esforço de ajuda, que até agora tem sido marcado por desafios e restrições. Esperamos que ele abra um corredor para que mais ajuda humanitária chegue às vítimas", declarou Hall.

Governo

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As duas primeiras remessas de alimentos enviadas pela ONU foram tomadas pelos militares e distribuídas às vítimas em atos públicos usados para propaganda. As caixas entregues por oficiais do Exército estavam cobertas com adesivos contendo fotografias dos principais dirigentes do regime militar, entre eles o principal líder da junta, general Than Swe. Em uma das caixas, uma foto do general Myint Swe mal escondia o logotipo impresso com a frase "doado pelo Reino da Tailândia".

"Temos visto casos em que comandantes militares regionais colocam seus próprios nomes em um lado das caixas de produtos enviados por outros países asiáticos e dizem que é um favor deles mesmos à população da região", comentou Mark Faramer, diretor da organização britânica Burma Campaign UK.

Na televisão de Mianmar, as reportagens sobre a distribuição de ajuda às vítimas do ciclone sempre destacam oficiais do Exército entregando alimentos em situações aparentemente ensaiadas.

Eleições

Essa distribuição de ajuda coincidiu com o primeiro dia de um plebiscito para a aprovação de uma nova Constituição, redigida pelos militares. Testemunhas disseram que os votos a favor da proposta variaram de 80% a 95% do total, dependendo do local, mas que houve fraude generalizada e intimidação de eleitores.

O projeto de Constituição garante aos militares 25% das cadeiras no Parlamento e não restaura os direitos políticos da líder oposicionista Aung San Suu Kyi, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz.

Em 1990, o partido Liga Nacional pela Democracia, liderado por Aung San Suu Kyi, venceu a eleição parlamentar, mas o pleito foi declarado nulo pelos militares. Ela permanece em prisão domiciliar desde então.