Li, dia desses, no jornal, artigo de conhecida psicóloga, arguta e percuciente, em que condenava a atitude de certos pais que, não raro, perdem a paciência e acabam batendo em seus filhos. Diz ela que, devido a um pouco de ansiedade e outro tanto de sentimento de culpa, é que a mamãe dá umas boas palmadas na criança desobediente, o que, se de um lado alivia a tensão momentânea da genitora, sua angústia e raiva, de outro em nada ajuda na educação do filho.
Ouso discordar de sua senhoria, a ilustrada psicóloga. Sou pai de dois filhos e professor, o que, penso eu, me credencia a meter o bedelho. Lecionei nos três graus de ensino: fundamental, médio e superior. A experiência como magistrado também me serviu de escola. Aposentado, vejo, com tristeza, que as teorias modernosas, que insistem em transformar pais e professores em amiguinhos dos filhos e dos alunos, são responsáveis pelo descalabro da educação de hoje. Ah! Que falta que faz, às vezes, uma boa palmada!
O que estou dizendo é que a pretensa pedagogia moderna (no sentido de mal compreendida e mal aplicada) é responsável por um paternalismo (maternalismo!) exacerbado, que não ajuda, em nada, nem o aluno nem o filho, em suas carências e desejo de proteção. A falta de limites, a falsa liberdade que atropela os conceitos do respeito e da autoridade, no lar e na escola, é que são responsáveis pela indisciplina generalizada que conduz, fatalmente, ao resultado zero ou muito próximo de zero no aproveitamento escolar e na formação do infante no lar paterno.
Os educadores não se dão conta de que a verticalização na relação professor-aluno, assim como na relação pai-filho, é fundamental. Não, senhores, eu não estou confundindo autoridade com autoritarismo; nem disciplina com rigidez. Analisem a figura do professor amigão que se senta sobre a mesa e bate papo com os alunos, em vez de dar aula, efetivamente. Desconfiem do professor legal, bacana, que deixa correr solta a indisciplina, pois no fundo ele já desistiu, sem saber, de ser educador. De outro lado, filho não é confidente do pai ou da mãe não senhor! Assim como aluno não é coleguinha do professor! Certos pais e certos professores se comprazem em fingir pretensa igualdade: aqueles, com os filhos; estes, com os alunos. Conheço mamãs ingênuas que se gabam de segredarem assuntos íntimos às filhas adolescentes, quando é sabido que estas não têm estrutura emocional para manter certo tipo de diálogo. Mesmo porque ouvido de filho não é lixeira para armazenar detritos comportamentais do papai ou da mamãe. Professores bonzinhos que atribuem nota 10 à turma inteira, para não se incomodarem com as costumeiras chorumelas… Ora! Queiramos, ou não, somos diferentes! Existe, sim, entre nós e eles (filhos e alunos), uma diferença vertical, uma hierarquia que deve ser preservada, sob pena de avacalhação do sistema.
Engana-se a douta psicóloga ao dizer que a sociedade que temos hoje é resultado daquela educação ortodoxa que forjou crianças que sofreram violência e coerção. Não é, não, minha senhora! Não transformemos as exceções em regra geral! O que temos aí, isto sim, é resultado de crianças mimadas, sem limites, justamente porque a tarefa de impor limites dá muito trabalho. Os casais de hoje, que se tornam pais cada vez mais velhos, cansados, pois ele e ela trabalham fora, e, mui convenientemente encorajados por essas teorias de vanguarda, deixam os filhos ao deus-dará, sob a responsabilidade de empregadas e babás, que, geralmente, não passam de crianças também, sem o menor preparo para a função de educadoras. Certos casais têm dois ou três filhos, quando não dão conta sequer de um só. A babá tem de ir junto ao pediatra, pois a mamãe e o papai nada sabem do que acontece com o pimpolho…
Curioso observar que aqueles mesmos formadores de opinião, que sempre pregaram esse paternalismo nocivo, hoje estão revendo sua posição, propondo comissões de estudo sobre a violência generalizada… praticada pasmem! na escola, por crianças sem educação e sem limites.
Finalmente, uma simples palmada de advertência à criança que está testando a autoridade paterna não pode ser confundida com violência. Não se pode esperar que ela entenda as ponderações filosóficas que pretendem convencê-la a não mexer em algo perigoso, ou não levantar a mão contra o pai ou a mãe. A palmada é mera sinalização de que a criança está fazendo algo errado. Funciona como aquela sineta de Pavlov… O que, diga-se de passagem, é menos traumatizante do que gritos histéricos que nada mais são do que violência verbal.
Por favor, senhores adeptos dessa educação melíflua, eu sei que filho não é propriedade dos pais, mas pelo amor de Deus! não cometam o imperdoável simplismo de confundir leve e salutar palmada, com animus corrigendi, com espancamento da criança!
Meu maior receio, no entanto, é que a mensagem da douta psicóloga, tão bem intencionada, venha a servir de incentivo àqueles pais de que falei, os quais, cansados e sem tempo, deixam os filhos ao deus-dará.