Dezenas de milhares de produtores agropecuários argentinos entraram nesta segunda-feira (24) em seu décimo segundo dia de greve, em protesto contra a política econômica do governo da presidente Cristina Kirchner. Os manifestantes, que protestam contra a aplicação de pesados tributos sobre as exportações de produtos agropecuários (as retenções superam os 40%), exigiram a renúncia do Ministro da Economia, Martín Lousteau, autor das medidas. Os produtores acusam o governo de aplicar os impostos as suas próprias custas para poder prosseguir com sua política de elevado gasto público, e ao mesmo tempo, contar com fundos suficientes para manter o superávit fiscal.
A greve do setor terminaria, a princípio, na terça-feira da semana que vem. Mas, lideranças das quatro associações agropecuárias do país analisam continuar com a paralisação por tempo indeterminado. Nos dois últimos anos, o governo do então presidente Néstor Kirchner havia tido diversos confrontos com o setor. Mas, esta é a primeira greve geral do setor agropecuário na história do país. Pequenos e grandes produtores uniram-se para realizar piquetes nas estradas e pressionar o governo contra a política tributária. Nenhum outro setor econômico antes havia decidido desafiar com tal unanimidade e intensidade o governo dos Kirchners.
A tensão cresce a cada dia, já que tanto os produtores como o governo não emitem sinais de diálogo. Para driblar o desabastecimento de carne, que já escasseia nos supermercados em Buenos Aires, o governo requisitou gado do Exército, que possui 35 mil cabeças para abastecimento da tropa.
Além disso, o Secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, ameaçou os produtores com a suspensão de subsídios agrícolas caso a greve não seja encerrada. Ontem, tropas da Genádarmería (uma força de segurança especializada na dissipação de distúrbios e manifestações) entraram em choque com os produtores nas redondezas de Paraná, onde os manifestantes pretendiam bloquear o acesso ao túnel abaixo do rio que liga a cidade à Santa Fe, um dos maiores centros agropecuários do país.
Os agricultores também agrediram caminhoneiros que tentaram furar os bloqueios nas estradas, e esfaquearam um distribuidor de carne, que estava entregando seu produto aos comércios. O sindicato dos caminhoneiros, comandado por Pablo Moyano, filho do secretário-geral da Confederação Geral do Trabalho (CGT), Hugo Moyano, um poderoso aliado do governo Cristina, ameaçou recorrer à força para desmontar os piquetes que impedem o trânsito dos caminhões.
Partidos da oposição, como a União Cívica Radical (UCR) declararam que o governo será responsável por eventuais vítimas dos choques entre caminhoneiros e produtores. A líder da Coalizão Cívica, Elisa Carrió, denominou os caminhoneiros de "tropa parapolicial" dos Kirchners.