Agressividade preocupa pais e mestres

A agressividade de crianças e adolescentes tem preocupado cada vez mais pais e professores. A falta de limites tem sido apontada como um dos principais fatores que desencadeiam o problema. Dizer não para os pequenos pode significar a diferença entre um adulto equilibrado e outro com dificuldades para se adaptar ao convívio social.

A psicóloga e pesquisadora Paula Inês Cunha Gomide, autora de vários livros na área, explica que a agressividade figura entre os comportamentos anti-sociais. Geralmente aparece diante de situações de frustração. Algumas pessoas aprendem a lidar com o sentimento e outras não.

A imposição de limites é considerada imprescindível para a construção de um indivíduo equilibrado. No entanto, Paula tem observado que os pais não têm obtido muito sucesso e as crianças cada vez mais controlam o ambiente através de gritos, chutes e mordidas.

Por volta dos três anos de idade, esse tipo de comportamento é comum, já que os pequenos estão descobrindo o mundo e testando os limites. O pais precisam estar atentos para não ceder às pressões. No entanto, por ser mais fácil, muitos acabam sucumbindo diante do comportamento do filho. "A criança não quer guardar seus brinquedos e consegue se livrar da situação, sendo agressiva com os pais", comenta a pesquisadora. O fato de os pais trabalharem muito também influencia. "Eles não querem ser enérgicos porque passam pouco tempo com os filhos", observa.

Para a psicóloga, os pais estão perdidos e não estão sabendo como educar os filhos. Mas existe uma explicação para isso. A geração de 1930 não enfrentava esse problema, porque na época todas as regras estavam estabelecidas e quem não obedecia sofria castigos severos. "Não estou dizendo que fosse correto, mas os pais tinham um modelo estabelecido e sabiam em que direção seguir", explica.

No entanto, em 1960, com a revolução sexual, muitos costumes ligados à educação familiar também começaram a ser questionados e considerados ultrapassados. Os pais modernos não queriam mais adotar os castigos e acabaram deixando os filhos totalmente livres. Deixaram de ser pais para serem amigos. "São as crianças que decidem o que comer, a hora de dormir, que programa a família vai assistir… são as autoridades da casa", aponta.

No entanto, à medida que vão para a escola e começam a ter contato com outros mundos, descobrem que existem regras e a agressividade é a saída encontrada para enfrentar esse meio. O resultado disso pode ser a exclusão dos colegas e professores e o baixo rendimento escolar.

Mas muitos pais só acordam para o problema quando os filhos chegam à adolescência. "O jovem sai de casa e volta a hora que quiser", exemplifica Paula. Nesta fase, a situação fica muito mais difícil de ser contornada, já que o problema está bem enraizado. Sem os limites estabelecidos, o adolescente também fica mais vulnerável ao uso de drogas, a doenças sexuais transmissíveis e à gravidez indesejada.

Apesar de ser mais difícil recuperar o controle da situação na adolescência, Paula diz que não é impossível. Os pais devem ser firmes em suas decisões e, se acharem que não estão tendo resultados positivos sozinhos, devem procurar ajuda.

Muitas vezes, um sinal de violência doméstica

Além da falta de limites, a agressividade das crianças pode ser um pedido de ajuda. Quem afirma é a psicóloga Fátima Regina Kotowski, da assessoria de relacionamentos externos e institucionais da superintendência da Secretaria Estadual da Educação. Ela cita o exemplo de uma criança de seis anos que era agressiva com os colegas, roubava objetos na escola e relutava em ir para casa. "Investigamos e descobrimos que o avô abusava da menina", fala Fátima.

O comportamento também pode ser um sinal da violência doméstica, como surras, falta de atenção e até negligência dos pais. "Mesmo inconsciente, a criança vai querer chamar a atenção de alguma forma", exemplifica Fátima.

A psicóloga também comenta sobre outro erro comum dos pais: comprar tudo o que o filho pede, como forma de compensar a falta de tempo que passam juntos e evitar de ver as birras e agressões. "Quando são pequenos, se contentam com produtos de R$ 1,99. À medida que crescem, querem coisas mais caras. Tem pais que no Natal se endividam para o ano todo. As crianças vivem fora da sua realidade", comenta.

O comportamento agressivo também pode ser um reflexo da situação vivenciada pela família. Hoje faltam conceitos básicos de relacionamento, como o diálogo e o abraço. Na escola, os professores podem contornar o problema, fazendo atividades em grupo, onde os alunos precisem se tocar. A discussão sobre valores e a melhoria da auto-estima também são essenciais.

A psicóloga Kelly Cristie Benvenutte Pereira também reforça que o modelo de convivência adotado em casa vai se refletir na escola e outros ambientes. "Se o pai e a mãe gritam muito um com o outro ou com o filho, a tendência é que a criança repita o modelo", fala. Para ela, os pais também precisam assumir a posição de pais e não de amigos. "Muitos se tornam liberais com medo de serem tachados de quadradões", cita. (EW)

Exemplos positivos ajudam a reverter a situação

Para a psicóloga Kelly Cristie Benvenutte Pereira, os brinquedos, desenhos e filmes também influenciam no comportamento. Ela cita o caso de uma criança que era agressiva e os pais permitiam que assistisse desenhos violentos e comprasse brinquedos como armas e bonecos de luta. "Eles potencializavam ainda mais o que a criança sentia", afirma.

Para ela, a saída não é proibir radicalmente o acesso dos pequenos a estes programas e materiais, mas é necessário reduzir o tempo de exposição e ainda conversar sobre o que estão vivenciando, questionar se é certo ou errado.

O professor de Psicologia do Desenvolvimento do curso de Educação Física da Faculdade Dom Bosco, Eugênio Pereira de Paula Júnior, concorda. Segundo ele, estudos mostram que brinquedos como armas potencializam a predisposição para a agressividade. Para ele, quanto menor o contato, melhor.

Ele explica que as crianças aprendem pelo modelo e muitos filmes, desenhos e jogos de computador reforçam o inverso, a violência. As crianças precisam de exemplos positivos. Aí também entra também o comportamento dos pais e professores. "Faça o que eu mando e não o que eu faço, não resolve", diz.

Segundo o professor, os jogos competitivos e de cooperação são ótimos para controlar a agressividade. Outro recurso interessante que pode ser adotado por pais e escolas é o jogo dramático. Com ele, podem ser vivenciadas situações de violência e depois busca-se uma reflexão sobre o que aconteceu.

Mas para ele, é ingenuidade querer acabar com a agressividade, já que ela é inerente ao ser humano. Além disto, quando ela é canalizada para o lado positivo, traz benefícios ao indivíduo. Eugênio explica que é a agressividade que nos faz conquistar espaços e a reagir a situações que nos prejudicam. (EW) 

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