A participação decisiva dos Estados Unidos na solução da crise em Honduras pôs em questão a efetividade dos diversos mecanismos latino-americanos criados para mediar os focos de tensão política regional. Apesar de ter pressionado o governo de fato e o presidente deposto durante quatro meses por um acordo, a Organização dos Estados Americanos (OEA) e diversos países da região não obtiveram sucesso. A paralisia institucional já ameaçava as eleições presidenciais hondurenhas do dia 29.
Uma vez mais, foram os americanos que deram solução para o impasse. O secretário-adjunto para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Thomas Shannon, chegou na quinta-feira a Tegucigalpa e, depois de encontrar-se com representantes das duas partes em conflito, finalmente anunciou o fim da crise. “Diplomaticamente, os EUA saíram como os grandes vencedores do acordo, enquanto a reputação da OEA como uma organização capaz de administrar as crises regionais ficou debilitada”, disse a especialista em América Latina da Eurasia Group, Heather Berkman.
Ela reconhece o importante papel desempenhado pelo secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, e por outros líderes da região “ao enviarem seus representantes a Tegucigalpa, em algum momento da crise, para ajudar a encaminhar o diálogo”, mas deixa claro que a saída não figurava no horizonte até a chegada de Shannon. A presença do representante americano foi respaldada pelo fato de os EUA serem um parceiro econômico indispensável para Honduras. Dados do Banco Central hondurenho mostram que o investimento americano no país em 2008 representou 45% de todo o investimento estrangeiro em Honduras. Além disso, 35% das importações hondurenhas vêm dos EUA.
Apesar do menor protagonismo econômico, a pressão dos países latino-americanos teve início horas depois do golpe de Estado que derrubou o presidente hondurenho, Manuel Zelaya, no dia 28 de junho. Mas apesar das inúmeras reuniões e dos diálogos que pareciam pavimentar o caminho para uma solução negociada, a intransigência do governo de fato tratava de apagar imediatamente qualquer sinal de esperança. Ao deparar-se com a crise em Honduras, a região já dispunha de um importante antecedente que mostrou a capacidade dos países latino-americanos em sanar seus próprios males. Em 2008, por meio do Grupo do Rio, os líderes regionais conseguiram neutralizar a crise entre Colômbia e Equador.
A tensão entre os dois países teve início depois de uma incursão militar colombiana, no dia 1º de março, em território equatoriano para atacar uma base das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). A Venezuela saiu em defesa dos equatorianos e ameaçou responder militarmente à Bogotá. A tensão só esfriou depois de uma reunião do Grupo do Rio na República Dominicana, quando, sem a participação americana, os líderes latino-americanos conseguiram debelar a crise. Apesar de a região ter repetido a estratégia de reação unida em Honduras, desta vez, a solução só veio depois de os EUA terem agido com decisão.
A reação de Washington veio depois de certa relutância, mas basta lembrar que, ainda na véspera, o governo de fato dizia que manteria o suspense até as próximas eleições. “Ironicamente, as pessoas que estiveram se queixando da interferência dos EUA na América Latina estão agora se queixando de que não estamos fazendo o suficiente”, disse Obama quando a solução ainda parecia distante. O desenlace em Honduras reforça a tese de que a região ainda não consegue prescindir de Washington.