A Autoridade Palestina (AP) dispensou a mediação do Brasil em seu diálogo com o Hamas. Mas quer que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveite a visita a Teerã, em maio, para tratar do envolvimento do Irã com o Hamas. “Pedimos ao presidente Lula que inclua o tema palestino no seu diálogo com o Irã”, disse o presidente da AP, Mahmoud Abbas, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.
Segundo ele, “atores influentes da região dificultam a reconciliação nacional, particularmente o Irã, que não se mostra interessado no diálogo nacional palestino com base em uma agenda palestina”. Sobre a reconciliação entre as duas facções, Hamas e Fatah, o presidente da AP afirmou que o entendimento só depende do Hamas, “porque nós já expressamos nossa convicção de alcançar a reconciliação nacional”.
O presidente da AP afirmou que o Brasil pode ter um papel de liderança na América Latina em relação aos esforços paz no Oriente Médio. Para Abbas, o País pode defender os palestinos no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), parar com o ingresso de produtos de assentamentos em seu mercado interno e trazer mais países latino-americanos para o tema.
“A América Latina pode atuar como uma terceira parte, o que incentivará Israel a se retirar dos territórios palestinos.” Como exemplo, ele citou o acordo de livre-comércio entre Mercosul e Israel que, de acordo com Abbas, “não foi um passo construtivo” pela paz, porque não há garantias de que produtos de colonos de assentamentos israelenses estarão excluídos de seus negócios. “Honestamente, confiamos no Brasil.”
Abbas deixou claro ainda que o fracasso do processo de paz não se deve à sua decisão de deixar a AP – ele decidiu não concorrer na próxima eleição presidencial, apesar dos apelos de vários chefes de Estado -, mas à decisão de Israel de expandir seus assentamentos. “Se quiserem salvar o diálogo, em vez de pedirem para eu ficar, peçam que Israel pare.”