Observar animais sem vida, que foram taxidermizados (empalhados) para estudo ou exibição, pode não parecer tão divertido quanto ir a um zoológico. Porém, visitar o setor de taxidermia de um museu de história natural é uma atividade bastante educativa e mesmo curiosa. No lugar, é possível conhecer características físicas e biológicas de animais pertencentes a diversas espécies.
No Museu de História Natural de Curitiba, localizado na Rua Nivaldo Braga, no bairro Capão da Imbuia, existem coleções científicas e didáticas de bichos taxidermizados. As científicas são destinadas a estudiosos da área, sendo compostas por animais que foram encontrados mortos na natureza. Já as didáticas são abertas ao público em geral, contendo bichos achados mortos na rua, em zoológicos ou mesmo em residências.
?Os animais destinados à exposição são taxidermizados em postura natural e colocados em ambientes que simulam seus habitats de origem, como cerrado, regiões de banhado, floresta atlântica, entre outros. A taxidermização é uma maneira de preservar os animais e permitir que eles sejam conhecidos pelas pessoas. Em uma cidade como Curitiba, por exemplo, a população nunca teria a chance de ver determinados bichos se estes não estivessem presentes no setor de taxidermia de nosso museu. Recebemos cerca de 7 mil pessoas por mês em visitas orientadas?, comenta a bióloga e diretora do Museu de História Natural de Curitiba, Gilda Tebet.
Foto: Lucimar do Carmo |
Especialista do museu fazendo o preparo de uma ave para a realização da taxidermia. |
Os primeiros animais presentes no museu da capital foram taxidermizados em 1937. Um dos exemplares considerados mais interessantes é um lobo-guará que foi empalhado no ano de 1951. Há um exemplar vivo no zoológico, mas quando as pessoas o comparam com o taxidermizado, percebem que este é bem maior. ?Quando a comparação é feita, é possível perceber a evolução da espécie, que com o tempo foi se tornando menor.? A taxidermização feita no lobo é perfeita e, mesmo com o passar dos anos, faz com que o animal ainda pareça vivo.
Outros bichos que chamam bastante a atenção do público são um tamanduá-bandeira, que também impressiona pelo tamanho; uma onça da região de floresta atlântica, que foi taxidermizada em 1985 e é muito admirada devido à beleza da pelagem; um condor, que foi coletado em Mato Grosso e, apesar de ser andino, entra periodicamente no Brasil, e um uso, também andino, que morreu de velhice há cerca de quatro anos no Zoológico de Curitiba.
No total, o setor de taxidermia do museu tem nove vitrines. Uma delas, também bastante curiosa, reproduz o ambiente urbano, na tentativa de conscientizar a população sobre a presença de ratos, gambás e pombas em locais onde o lixo é deixado a céu aberto.
Ciência surgiu no império egípcio
Os registros mais antigos de animais taxidermizados remontam ao império egípcio, cerca de 2500 a.C. A técnica só pode ser aplicada a animais vertebrados e geralmente é feita por pessoas com grande conhecimento de biologia, química, anatomia, comportamento e ecologia.
Segundo funcionários que realizam o trabalho no Museu de História Natural de Curitiba, os bichos a serem taxidermizados são mantidos congelados por um tempo para que haja coagulação do sangue. Na seqüência, é decidido se o animal vai ter postura científica ou natural e iniciado o serviço.
Como procedimento inicial, é feita uma incisão na região do abdômen do animal. Na seqüência, a pele é descolada com bisturi e a carcaça retirada para que o molde de palha seja realizado. A pele é tratada com arsênico e outros produtos. Depois, é feito enchimento, suporte de arame e costura. Os ossos das patas são sempre mantidos. Em postura natural, o crânio também é deixado. Não é possível conservar apenas a língua e os olhos, sendo necessária colocação artificial.
Além da palha, a taxidermia pode ser realizada com poliuretano. Para que o animal taxidermizado tenha grande duração, ele deve ser protegido das intempéries climáticas e da luz. A taxidermia feita em mamíferos tem como grande desafio a realização correta da postura natural. Já a realizada em aves exige cuidados maiores com a pele, que costuma ser mais fina.
Donos preservam seus animais
A taxidermia não tem apenas objetivos didáticos e científicos. A prática atende a diferentes públicos, como proprietários de animais domésticos, pescadores, caçadores desportistas, responsáveis por criadouros comerciais e produtores de peças de teatro, cinema e televisão.
No que diz respeito aos bichos de estimação, o taxidermista Henrique Doni, que trabalha em Curitiba, revela que um número cada vez maior de pessoas têm buscado a conservação do corpo de seus animais domésticos já mortos.
?Já realizei taxidermia em cães, gatos e até papagaios. Há algum tempo, fui procurado por um casal de idosos que queria taxidermizar um papagaio de estimação que vivia com eles há trinta anos. Foi a forma que eles encontraram de manter viva a memória do animal, que lhes era bastante querido?, conta.
Henrique começou a trabalhar com a taxidermia no início da década de sessenta, quando a caça no Brasil ainda era totalmente liberada. Ele aprendeu sozinho e, no início, empalhava apenas os seus próprios animais. Porém, logo começou a também realizar o serviço para terceiros.
?Ainda hoje trabalho com alguns animais de caça. Entretanto, só com bichos provenientes de fazendas de caça credenciadas pelo Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis), como faisões, javalis e alguns marrecos. Para os caçadores, assim como para os pescadores, o animal taxidermizado geralmente é guardado como um troféu.?
O preço de taxidermização varia conforme o tamanho do animal. Um pássaro, por exemplo, pode custar R$ 80. Já uma cabeça de boi sai por cerca de R$ 400.
Lembrança
Pode parecer um pouco estranho, mas o aposentado Rodolfo Augusto Fontoura é uma entre as diversas pessoas que encontraram na taxidermização uma maneira de manter viva a lembrança de seus animais já mortos. Ele levou para taxidermia um cachorro, que morreu há cerca de três anos e viveu com ele por 17; uma gatinha, que pertencia à sua filha, faleceu no último mês de maio e tinha 14 anos de idade; uma calopsita e diversos periquitos.
?Tive dó de enterrar os animais quando eles morreram. Então, os taxidermizei e os mantenho comigo dentro de casa?, explica.