A ciência dos nanicos começa a gerar tecnologias

A possibilidade de minúsculos organismos autômatos transitando dentro do corpo humano ainda faz parte da ficção científica, como no filme norte-americano Viagem Insólita, lançado há cerca de vinte anos. Contudo, a utilização de equipamentos e ferramentas biomédicos em escala reduzida para diagnóstico rápido e eficiente já é realidade. Não só na medicina, mas em todas as áreas, as nanotecnologias promovem uma revolução na forma de obtenção e na criação de novos materiais, substâncias e produtos: a revolução molecular.

A nanotecnologia se fundamenta no estudo das ligações dos átomos para conhecer as substâncias e assim desenvolver materiais. Como tudo no universo é formado por átomos pode-se afirmar que as soluções nanotecnológicas podem ser empregadas em todas as áreas de conhecimento.

No Brasil, iniciativas como a do Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) confirmam esse caráter multidisciplinar das pesquisas. Com R$ 2,7 milhões em recursos alocados para esse ano, o órgão de fomento estrutura quatro redes de pesquisa em nanotecnologia: molecular e interfaces (Renami), nanobiologia, materiais nanoestruturados e nanodispositivos e nanoeletrônica. Duas dessas redes, a Renami e a Rede Cooperativa de Nanodispositivos Semicondutores e Materiais Nanoestruturados (NanoSemiMat) são centralizadas na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), um dos centros mais desenvolvidos em nano no país.

Uma das pesquisas da instituição caminha para obtenção de um sensor de gases que poderá ser útil na prevenção de acidentes em plataformas de petróleo. O nanodispositivo em desenvolvimento possui uma camada de polianilina, polímero condutor (plástico que conduz eletricidade), que tem modificada a resistência elétrica em contato com hidrocarbonetos (gases), esse fato resulta em alterações na resposta do sensor. “Esse nanodispositivo será calibrado para perceber pequenas alterações do ar, possibilitando a intervenção humana a tempo de evitar acidentas”, explica Eronildes da Silva Júnior, professor do Departamento de Física da UFPE e coordenador da Renami. Além de gás, informa Eronildes, o sensor também poderá ser usado para detecção de vazamento de amônia e ácidos.

Na área médica, a Nano Endoluminal, empresa incubada na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), tem como produto principal um sistema nanoestruturado que possibilita operações cardíacas com o mínimo de danos para os pacientes. A endoprótese bifurcada simplifica as operações de aneurisma de aorta. Através de uma incisão com cerca de 3 centímetros na virilha do paciente, são injetados cateteres e balões que inflam no local onde está o aneurisma e o limpam, colocando a prótese no ponto avariado.

Apesar dessa técnica poder ser aplicável em apenas 30% dos pacientes com aneurisma, suas vantagens são inegáveis porque ela reduz sensivelmente o tempo das cirurgias tradicionais que implicam em intervenções demoradas com afastamento de órgãos e longo período de recuperação. Com a técnica da endoprótese o paciente pode deixar o hospital em três dias. De acordo com José Renato Dellagnelo, diretor financeiro da empresa, o futuro das nanotecnologias na área médica é muito promissor, havendo prognósticos de robôs infinitamente pequenos realizando cirurgias pouco invasivas no corpo humano.

Contudo, a maior parte das nanopesquisas continua confinada aos laboratórios das universidades. É consenso entre cientistas classificar a fase atual como de desenvolvimento de nanociências, de laboratório, com pouca aplicabilidade para as descobertas. Ottilia Saxl, diretora do Instituto de Nanotecnologia da Grã Bretanha, tem uma frase que sintetiza as perspectivas para o setor: “a nanotecnologia é, por enquanto, uma onda, mas será dentro de pouco tempo um maremoto. Suas aplicações não vão se limitar a duas dezenas de produtos”. (Hebert França)

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