A violência sexual é um flagelo na Inglaterra e Gales, onde 167 mulheres são violadas por dia e um quinto da população feminina com mais de 16 anos foi estuprada pelos próprios parceiros em 45% dos casos ao menos uma vez. A situação foi divulgada pelo Ministério do Interior britânico, em base a uma entrevista realizada entre sete mil mulheres.
No marco de um informe sobre atos criminosos o ministério apresentou um plano de ação que, apesar de não eliminar o problema, aumentará a porcentagem dos casos julgados de violação. Atualmente apenas 7,25% das agressões sexuais denunciadas terminam com uma condenação.
O estudo do ministério rompe com a falsa idéia de que este crime seja cometido por estranhos em ruas escuras: 45% dos estupros cometem-se pelo companheiro da vítima, 21% por homens com os quais a vítima sai em um encontro e 16% por conhecidos. Apenas 8% sofreram estupros ou assédios de desconhecidos, contra 55% que ocorrem na própria casa.
Segundo a pesquisa governamental, a violação cometida pelo próprio parceiro da vítima é mais violenta do que a de um desconhecido. “Trata-se de um crime horripilante”, frisa o subsecretário do Interior, John Denham, ao anunciar uma revisão completa do tratamento de casos de estupro, que inclui da criação de um núcleo de agentes especializados para uma maior e eficaz coleta de provas científicas, ao aumento do apoio moral e prático à vítima. “Legalmente, é difícil conseguir uma sentença de culpabilidade porque o crime com freqüência se comete em casa, longe de testemunhas oculares”.
Segundo a pesquisa, as mulheres de maior risco são as adolescentes entre 16 e 19 anos, com quatro vezes mais chances de serem estupradas do que as mais velhas. Também parece existir um vínculo com a entrada familiar. As mulheres que provêm de famílias cujas rendas são inferiores a 15.500 euros sofrem três vezes mais estupros do que as que têm uma situação melhor.
O estudo concluiu que, na Inglaterra e Gales, as vítimas desse flagelo são 754 mil. Em 2000 se registraram 61 mil casos, mas somente uma mínima parte deles (7.707) foi denunciada à polícia.
Kate Mulley, da associação Victim Support, frisa que o dado mais preocupante é o da violência doméstica. “São os casos nos quais denunciar o agressor é muito mais difícil”, frisa. “Estamos felizes que o governo finalmente se preocupe com a situação. Com freqüência, ouvimos histórias de mulheres violadas que, durante o interrogatório policial, sentem-se novamente estupradas”.
Recentemente, Lindsay Armstrong, 17, estuprada no parque de New Cumnock, em Ayrshiere, Escócia, se suicidou depois da audiência no tribunal. “Quando saímos da sala, ela afirmou estar acabada. Disse-me que a experiência tinha sido terrível, como se a tivessem estuprado pela segunda vez”, contou o pai da adolescente.