Não é todo dia que se tem notícia positiva. Por isso, quando acontece, é preciso curtir. Diz a Organização das Nações Unidas (ONU) que o mundo está ficando melhor. Que o planeta azul, atualmente, apesar da fome, das guerras, do terror, das drogas, dos cataclismos e dos entraves comerciais que remam contra a maré da globalização, é um lugar melhor do que foi há vinte ou trinta anos. Difícil de acreditar para quem lê jornal todos os dias ou assiste aos telejornais, mas a organização prova com números. Melhor que a notícia é o prognóstico: vai ficar ainda melhor.
As informações estão contidas no Relatório 2002 do Desenvolvimento Humano da ONU e asseguram que a percentagem mundial de pessoas que vivem em extrema pobreza caiu de 29%, em 1990, para 23% em 1999, acompanhando, em razão inversa, os níveis de globalização. Queiram ou não os militantes de movimentos antiglobalização, essa é a realidade: países densamente povoados como a China e a Índia reduziram consideravelmente seus níveis de pobreza a partir do momento em que permitiram a abertura de sua economia, fato verificado a partir da década de 80. Os chamados “tigres” asiáticos (Hong Kong, Taiwan, Coréia do Sul e Cingapura) reduziram, de 28% para 14%, o percentual de pobres em sua população, num milagre de apenas alguns anos. Segundo o mesmo relatório, 57 países que respondem pela metade da população do mundo reduziram suas taxas de pobreza pela metade ou deverão fazer isso até 2015.
Índices melhores são verificados também em outros setores. As taxas de mortalidade infantil, por exemplo, também estão caindo em todo o mundo. Nos últimos 30 anos, o salto foi de 96 crianças mortas com menos de cinco anos de idade por mil nascimentos, para 56. Também a educação melhorou, pelo menos em termos percentuais: há 20 anos, o percentual mundial de crianças matriculadas em escolas era 80%, hoje está em 84%. O progresso é verificado igualmente no campo das liberdades, quando se verifica que 140 dos cerca de 200 países do mundo realizam eleições pluripartidárias, com imprensa livre ou quase livre – um fenômeno impensável há 30 anos.
Os números fazem o economista Paulo Segal, da ONU, a afirmar que o mundo “é mais democrático do que jamais o foi anteriormente”; que a proporção das pessoas que vivem na miséria está caindo; que a fome está diminuindo; que o acesso à água – embora cada dia um líquido mais precioso – está crescendo; que a mortalidade infantil está se reduzindo, enquanto a educação está aumentando.
Mesmo na América Latina – uma das piores regiões da Terra, segundo o relatório – obteve algum progresso (ou, pelo menos, tinha obtido até eclodir a crise argentina), ao derrubar os índices de pobreza de 17% para 15%; os de mortalidade infantil de 123 para 37 crianças por mil, e ao aumentar a taxa de alfabetização de 82% para 88%.
Neste cantinho do planeta onde vivemos, o problema – segundo os dados catalogados pelo relatório da ONU – é a distribuição de renda, tão desigual quanto a nossa pobreza que, embora tenha decrescido em termos percentuais, aumentou em números absolutos devido ao crescimento geral da população na região. Sim, nós estamos produzindo mais pobres que antes, embora sejamos detentores de outro triste recorde: enquanto nos Estados Unidos os 20% de americanos mais ricos têm rendas nove vezes maiores do que os 30% mais pobres, aqui a proporção é de 30 para 1. Valha-nos, pois, a globalização e a partir de nossa própria casa.