Mundo dos ricos

Vieira Neto, professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná, já falecido, foi deputado federal pelo Partido Comunista Brasileiro. Intelectual brilhante, era também um homem que não levava desaforo para casa. De certa feita, tentando estacionar sua camioneta no centro de Curitiba, foi surpreendido por um abusado motorista, que, mais rápido, tomou-lhe a frente e ocupou a vaga. E debochou: ?O mundo é dos espertos?. Vieira Neto deu marcha à ré em seu pesado veículo e moeu o do motorista atrevido. E respondeu à provocação: ?Engano seu. O mundo é dos ricos?.

Mesmo agora em que a sociedade brasileira parece disposta a fazer todos os sacrifícios para manter um operário na Presidência da República, enquanto auxiliares seus, aos quais faltou esperteza, mas não cobiça, tentaram locupletar-se com o dinheiro público, o mundo continua a ser dos ricos. De cada três deputados federais eleitos, um é milionário. Dos 513 deputados que assumem em 2007, nada menos de 165 têm patrimônio superior a R$ 1 milhão. Setenta e quatro dos 165 milionários são novatos e 91 foram reeleitos. O patrimônio médio do parlamentar eleito subiu de R$ 2,2 milhões para R$ 2,5 milhões. Todos juntos são possuidores de R$ 1,2 bilhão, mais do que os eleitos há quatro anos.

Se se acreditar que a opção de Lula é pelos pobres, é certo que, pelo menos na escolha de seus representantes, a do eleitorado continua sendo pelos ricos. E ainda devemos considerar o fato de que, embora a minirreforma eleitoral tenha inibido um pouco a gastança nas campanhas, os números de fortunas revelados pelos candidatos não são dos mais confiáveis. Aliás, nem mesmo os candidatos à Presidência são exatamente pobres. Dos dois que chegaram ao segundo turno, Lula, o defensor dos pobres, ainda é o mais rico. O rendimento médio de um brasileiro é de R$ 527 por mês. Seria necessário trabalhar mais de 392 anos para acumular R$ 2,5 milhões.

O mais rico é, de longe, Camilo Cola, do PMDB do Espírito Santo, um ?self made man? com 83 anos de idade, dono da Viação Itapemirim. O segundo é um paranaense, Odílio Balbinotti, do PMDB.

Muitos desses ricos representantes do povo podem ter declarado erroneamente seu patrimônio e serem mais ricos ainda do que procuram parecer. O fato é que o eleitorado está acreditando no amor aos pobres, mas não no amor à pobreza, e eleições continuam sendo, em geral, coisa para ricos.

A bancada com mais milionários é o PFL, com 38. Depois vem o PMDB, com 37. O PSDB tem 21. O PT tem seis milionários, mas a maioria de seus membros foi a que mais enriqueceu.

Transportando a conclusão de que o Brasil é politicamente dos ricos para o plano internacional, nos convenceremos que o mundo também continua sendo dos que têm mais recursos. E não precisam ser recursos naturais, pois tecnológicos ou mesmo dinheiro, como comprova a pequena, porém riquíssima Suíça dos bancos, também serve.

E o Brasil mesmo, com todo esse papo contra privatizações, vê-se às voltas com o nacionalismo da pobre Bolívia ferindo os interesses da Petrobras, enquanto a privatizada Vale do Rio Doce compra a canadense Inco, passando de quarta para segunda maior mineradora do mundo. No fundo, também o Brasil quer ser rico, se possível, e é possível, com maior justiça social. Aliás, o Canadá, que permite a desnacionalização de sua gigantesca mineradora abocanhada por brasileiros, é rico com relativa justiça social.

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