Mulheres de militares usaram hoje o desfile do 7 de setembro para protestar contra a crise política e o reajuste parcelado dos soldos de seus maridos, concedido pelo governo. Segundo a presidente da União Nacional das Esposas de Militares das Forças Armadas (Unemfa), Ivone Luzardo, a manifestação reuniu cerca de três mil pessoas, teve cunho pacífico e o objetivo de mostrar a insatisfação das mulheres de militares que, há vários meses, organizam manifestos pelo reajuste dos salários de seus maridos.
"Ao final do desfile, saímos sem fazer alarde. Afinal, somos patriotas e nacionalistas, acima de tudo. Não importa o governo", disse Ivone Luzardo, que se diz decepcionada com as atuais denúncias de corrupção. Dois dias antes do desfile, ela diz que a Unemfa fez panfletagem nas residências oficiais de militares, em Brasília, chamando as mulheres para comparecer ao desfile e participar da manifestação.
Ela conta que as mulheres foram orientadas a se posicionar na arquibancada em frente do ministério da Fazenda, a 200 metros de distância do palanque onde estava o presidente Lula e outras autoridades. "Queríamos nos posicionar em frente do palanque do Lula, mas ele estava reservado para os convidados do presidente, que tinham, inclusive que apresentar convite. Isso é pseudodemocracia", criticou a presidente da Unemfa.
A arquibancada das mulheres de militares foi enfeitada com balões verdes e amarelos e pizzas confeccionadas em papel. Com apitos e cornetas, as manifestantes vaiaram o presidente no momento de sua chegada ao desfile. As faixas de protesto afixadas por elas faziam menção à crise e ao reajuste. Uma delas dizia: "O papel das forças armadas no Brasil é higiênico".
Segundo Ivone Luzardo, as mulheres de militares não gostariam que as Forças Armadas voltassem a agir como em 1964, mas "limpar a sujeirada" tem sido, segundo ela, o papel das Forças Armadas em momentos de crise na história do Brasil. Ivone se diz descrente quanto à punição dos culpados pelos atos de corrupção: "É só o que falta agora, as Forças Armadas fazerem a limpeza dessa sujeirada. É sempre as Forças Armadas que são chamadas quando há sujeira, veja o exemplo de quando há muitos problemas com o tráfico nas favelas do Rio. Quem sobe o morro? Os militares".
Além de estarem insatisfeitas com a concessão do reajuste de 23%, acordado no ano passado com o governo, e dividido em duas parcelas, Ivone diz que as mulheres de militares também se posicionaram contra decisão do Ministério da Defesa de reduzir o auxílio-invalidez. Uma parcela de 13% do reajuste será concedida em outubro e a segunda, de 10%, virá no salário de agosto do ano que vem. O auxílio-invalidez, que era equivalente ao soldo de um cabo (em torno de R$ 800), foi reduzido para 25% do soldo.
De acordo com Ivone Luzardo, portaria nesse sentido foi assinada no mês passado pelo ministro da Defesa, José Alencar. "Essa portaria criou o caos social. Quem tem câncer e faz um tratamento caro consegue pagar as contas em dia e ainda comprar medicamento?", indaga a presidente da Unemfa.