Uma rápida olhada pelos gabinetes das delegacias do Consumidor ou de Campo Largo logo denuncia que esses locais são chefiados por mulheres. Desde a organização até detalhes de decoração demonstram a presença feminina no ambiente de trabalho. As delegadas garantem que ser policial é uma tarefa que pode ser realizada com maestria por mulheres. Tudo depende de dedicação. ?Não há diferença, porque a investigação, que é o principal trabalho da Polícia Civil, não se faz com força, mas sim com inteligência?, garante a delegada de Campo Largo, Maritza Maira Haisi. Segundo ela, a mistura de homens e mulheres é que dá o equilíbrio ao trabalho policial.

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Para o delegado-geral da Polícia Civil, Jorge Azôr Pinto, não há diferenças no trabalho desenvolvido por homens ou mulheres. ?Aqui elas concorrem em igualdade e conquistaram espaço e respeito. Hoje, não é mais surpresa uma mulher chefiando uma delegacia?, conta. Mas maioria delas concorda que a primeira diferença e vantagem que levam é que ninguém sequer desconfia de uma mulher atuando em uma investigação. ?É surpresa para muita gente ser abordado por uma mulher. Isto é uma vantagem, porque temos condição de passarmos despercebidas por um local que está sendo investigado e é mais fácil surpreender os criminosos?, afirma a delegada da Delegacia de Vigilância e Capturas, Suzzely Braz.

Suzzely acredita que a mulher também é dedicada e talhada para lidar com problemas e por isto consegue gerenciar bem uma delegacia. ?Temos uma visão mais ponderada, humanizada e criativa porque, além do trabalho, estamos acostumadas a administrar a casa e cuidar dos filhos? afirma. Mesmo com o desafio de mostrar um bom trabalho como policial, cuidar da casa e dos filhos, elas ainda encontram tempo para cuidar da aparência. ?Nós arrumamos o cabelo, fazemos escova, passamos maquiagem, mesmo com a rotina puxada da delegacia?, garante Suzzely.

Soraya Maria Mendes da Silva, que chefia a Delegacia de Crimes Contra a Economia e Proteção ao Consumidor (Delcom), avalia que o trabalho da mulher na área policial é mais meticuloso e, por isto, ela se dá bem com a parte burocrática. ?Temos mais paciência e atenção para este tipo de trabalho. As escrivãs, por exemplo, fazem ótimos inquéritos?. Já Maritza diz que trabalhou com excelentes investigadoras. ?Já trabalhei com investigadoras bastante determinadas, porque elas têm que provar competência, senão acabam sendo empurradas para trabalhos internos?, descreve.

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Diferenças

Suzzely diz que nunca enfrentou preconceito no trabalho. ?Preconceito entre os colegas não existe, mas proteção sim, e nos sentimos lisonjearas com este tratamento?. Maritza concorda, mas diz que há muita curiosidade quando uma mulher assume uma delegacia. ?Quando eu assumi em Campo Largo, há um ano e meio, fui alvo até de uma enquete no jornal local e muita gente veio me visitar. O povo estava curioso. Hoje, sou respeitada e as pessoas elogiam meu trabalho, dizem que o acolhimento na delegacia é agradável?, conta. Segundo ela, o ambiente onde a mulher trabalha é diferente e não parece uma ?sala de delegado?, mas um escritório, e ?isto deixa as pessoas mais à vontade?.

Márcia Tavares dos Santos, que chefia o Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride), diz que já trabalhou inclusive no Grupo Tigre (Tático Integrado de Grupos de Repressão Especiais), e garante que nunca teve problemas, nem com preconceito, nem em mostrar serviço. ?A gente procura fazer o trabalho mais adequado à nossa personalidade. Algumas unidades requerem a presença do trabalho feminino, é o caso da Delegacia da Mulher e do Sicride, porque, por natureza, elas têm mais facilidade para lidar com os problemas destas áreas?. Mas ela conta que, quando assumiu o Sicride, esperava ter pelo menos uma mulher na equipe e não foi possível. ?Fui surpreendida pela habilidade dos homens para lidar com as crianças e, hoje, não me faz falta a presença feminina?.

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Bailarina armada

Priscila Maria Alcântara Martins, investigadora de polícia da Deam (Delegacia de Explosivos, Armas e Munições), já trabalhou na Ouvidoria da Polícia Civil e na Delegacia de Delitos de Trânsito (Dedetran). Mas ninguém diria que, antes de ser policial, ela foi, por 17 anos, bailarina clássica profissional, formada pelo Teatro Guaíra. ?Dancei por todo o Brasil e dava aulas de ballet desde os 15 anos?, relembra. Mais tarde, formou-se também em Educação Física.

Quando veio para Curitiba, casou-se com um escrivão de polícia e decidiu prestar concurso para investigadora. ?Achei que a profissão daria estabilidade e segurança para mim. Não queria ficar em casa só cuidando dos filhos e resolvi tentar. Passei e, quando estava na escola, descobri que era apaixonada pela profissão de policial. Agora, não me imagino fazendo outra coisa?, conta.

Com dois filhos pequenos, Priscila diz que, no começo, foi difícil administrar trabalho e afazeres da casa. ?Eles reclamaram no começo da minha carreira, mas hoje dão força para o meu trabalho e se orgulham de ter uma mãe policial. Como administro tanta responsabilidade eu não sei. Só sei que faço e no fim dá certo?. Hoje ela acumula medalhas de 2.º e 7.º lugar nos campeonatos de tiro promovidos pela Deam para os policiais de todo o Estado e diz que não teve dificuldades na atual profissão. ?Normalmente, quando a investigadora é nova, eles a colocam em setores administrativos e, depois, quando vêem que é tão boa quanto eles, torna-se respeitada?, relata.