Brasília (AE) – A jornalista Márcia Regina Milanese, mulher do ex-presidente da Câmara, deputado João Paulo Cunha (PT-SP), confirmou à Polícia Federal que sacou R$ 50 mil da conta do empresário Marcos Valério de Souza na agência do Banco Rural em Brasília, em 4 de setembro de 2003. Ela disse que repassou a quantia imediatamente ao marido e alegou não saber, na ocasião, que se tratava de dinheiro de caixa dois. Na época do saque, a empresa SMP&B, de Valério, disputava concorrência, que acabou vencendo, para o contrato de publicidade da Câmara, então presidida por João Paulo.
Márcia disse que fez apenas este saque, entregue em espécie, num envelope, pelo tesoureiro da agência do Brasília Shopping, Francisco Rego. Contou também que, só agora, quando o escândalo do mensalão explodiu, tomou satisfações do marido. João Paulo, conforme seu relato, alegou que usou o dinheiro para pagar pesquisas pré-eleitorais em favor dos candidatos do PT que disputavam a prefeitura e vagas na Câmara de Vereadores de Osasco, São Paulo. O depoimento de Márcia durou apenas 40 minutos e foi o mais curto até agora no inquérito do mensalão.
A PF considera agora inevitável tomar o depoimento de João Paulo, para que ele esclareça o destino do dinheiro e apresente recibo do pagamento das pesquisas. Ele corre o risco de ser cassado por quebra do decoro e processado por lavagem de dinheiro e crime eleitoral. Logo que seu nome apareceu na lista de sacadores, o ex-presidente da Câmara negou a acusação e alegou que sua mulher havia ido à agência bancária para pagar uma conta de TV por assinatura.
Na primeira lista de sacadores que entregou ao Ministério Público, Valério atribuiu a João Paulo saques num montante de R$ 200 mil, mas depois retificou a informação para R$ 50 mil. A PF quer saber do próprio João Paulo se houve outros saques. Márcia apresentou-se para depor em companhia do advogado Alberto Zacarias Toron. Ela entrou e saiu pela portaria privativa da garagem para evitar a imprensa.
O inquérito do mensalão, que subiu da justiça comum para o Supremo Tribunal Federal (STF) por conter nomes de parlamentares, será entregue hoje ao ministro Joaquim Barbosa, que preside as investigações. A PF pedirá mais 30 dias de prazo para aprofundar as investigações e tomar vários depoimentos que ficaram pendentes nessa primeira fase, de apenas 15 dias.
Pedirá também a quebra de sigilos bancário, fiscal e telefônico da corretora de valores Bônus Banval, de São Paulo e da Guaranhus Empreendimentos, Intermediações e Participações. A Banval teria recebido R$ 3,5 milhões das contas de Valério e repassado a parlamentares petistas, por orientação do ex-tesoureiro do partido, Delúbio Soares. Já a Guaranhuns é suspeita de ter sido usada para movimentar o caixa dois do PL, partido da base aliada do governo.