Muito a explicar

O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e arcebispo de Salvador, dom Geraldo Majella Agnelo, entende que o presidente Lula ainda tem ?muita coisa? a explicar à nação sobre as denúncias de corrupção que envolvem o governo. Na opinião do prelado católico, ainda não se sabe ?se atingimos o fundo do poço ou se estamos na metade?.

A posição, que expressa o pensamento da CNBB, de certa forma contraria a do presidente Lula, que não se cansa de fazer discursos e pronunciamentos admitindo a crise, mas achando que o diabo não é tão feio quanto parece. É otimista, insistindo que o mar de lama não entrou no Palácio do Planalto, limitando-se ao PT e ao Legislativo, onde se expressam as suas bases partidárias, em parte atraídas, segundo denúncias, com o pagamento imoral de mensalões.

A situação lembra a interpretação do que é ser otimista e o que é ser pessimista. Dom Geraldo representa o pessimista, embora esteja sendo realista. Já Lula fala em estar de cabeça erguida, posição altaneira que hoje nenhum brasileiro consciente ostenta. A maioria está de cabeça baixa, triste pela frustração de ver que a corrupção, apesar da mudança radical das forças de governo, continua grassando e desgraçando o País. Isso num governo encimado por um trabalhador e por um partido tido e havido como ético. Já Lula busca instilar, nas massas, que é a quem se dirige prioritária, se não exclusivamente, que está de ?consciência limpa?, ?tranqüilo? e ? muito mais aberto do que coração de mãe?. Para ele, os ?objetivos? dessa crise política são a intenção de conspiradores de envolvê-lo nas denúncias de corrupção. Para Lula, ?não são poucos os que querem jogar para dentro do Palácio algum erro, algum processo de corrupção?.

O presidente, quando ia começar o encontro da CNBB, dirigiu aos bispos uma carta de promessas e confiança. Foi reverente, mas nada de conseqüente adicionou à discussão sobre as negociatas que acontecem no governo, ou seja, nas forças políticas que sustentam o Executivo que o presidente comanda, e no Parlamento, onde elas se expressam.

As linguagens da CNBB e de Lula não casam. A despreocupação do presidente e seu isolamento da crise, sem assumir nem a parcela de responsabilidade por haver se cercado de tanta gente malandra, contrasta com os bispos, que dizem ser ?urgente uma radical e profunda reforma do sistema político-eleitoral brasileiro? e que defendem a expulsão partidária de membros do PT e de outras siglas envolvidas em denúncias de corrupção.

?Devem ser mesmo expulsos e eliminados do partido (PT). E, assim, que todos os outros partidos façam o mesmo, porque o PT não é o único que está sendo investigado?, diz dom Geraldo.

Lula insiste que é preciso ultimar as investigações e quem pune é a Justiça. É verdade, mas bem poderia utilizar sua ampla força de presidente para, primeiro, não permitir que ao seu redor se fizessem tantas maracutaias. E, em segundo lugar, poderia desde já estar ativo, pressionando para que sejam afastados os denunciados, os indiciados, os indigitados. Se não pode fazer uma limpeza em regra, que pelo menos dê uma varrida no espaço político, antes que joguem toda a sujeira para debaixo do tapete.

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