Mudanças na direção do BC são negociadas por Lula e Palocci

Com a defesa que fez da política econômica no Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou desvincular qualquer substituição que venha a ser feita na diretoria do Banco Central das críticas ao aumento de juros.

A troca de alguns diretores é dada como certa dentro da equipe econômica. Mas o presidente não quer que isso seja visto como uma mudança de rumo e coloque em risco a credibilidade de seu governo na economia, que lhe custou muito politicamente, mas cujos frutos pôde colher em Davos.

Segundo um interlocutor do Palácio do Planalto, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, conseguiu conquistar a confiança do presidente. Depois de todo desgaste político que o governo teve para blindá-lo com o status de ministro de Estado – evitando um bombardeio maior por parte da oposição com denúncias de sonegação fiscal – Lula não iria "jogá-lo na fogueira".

Em sinal de prestígio, Meirelles foi convidado a ir a Davos no avião presidencial mas teve que antecipar a viagem para participar de um jantar oferecido pelo Credit Suisse First Boston. Na volta, Meirelles e sua mulher, convocados por Lula, retornaram ao Brasil no avião presidencial, o que ampliou os comentários sobre as trocas no BC.

"Tudo tem seu momento. E qualquer mudança será para melhorar e não para mudar a política econômica", afirma uma fonte do governo. Ao tentar pontuar a discussão sobre substituições no BC, Lula está se antecipando a um problema que deverá ganhar ainda mais destaque nos próximos próximos meses: as pretensões políticas de Meirelles.

Para assumir a presidência da instituição, ele renunciou ao mandato de deputado federal por Goiás, Estado onde nasceu. Em Goiânia, o cenário político que começa a se desenhar para as eleições do ano que vem leva em conta uma candidatura Meirelles. Como deputado mais votado no Estado, ele é citado como provável candidato ao governo local. No entanto, para isso, precisará se filiar a um partido político até outubro deste ano, como exige a legislação, tendo que abrir mão do comando do BC.

Como a substituição do cargo de presidente do BC não é uma coisa simples, o governo precisa se preparar. Além disso, se for candidato mesmo, Meirelles terá que definir por qual partido. Nos bastidores já se fala que ele poderia concorrer pelo PT, rompendo qualquer vínculo com o PSDB, partido pelo qual foi eleito para deputado federal e que, a cada dia, reforça o discurso de oposição ao governo. "Os planos políticos de Meirelles, se incluírem uma candidatura já em 2006, sem dúvida serão um problema que o governo terá que resolver", diz um interlocutor do presidente Lula. "Mas isso não exige solução imediata.Por enquanto, ele fica onde está", garante.

Apesar de o governo está vivendo um momento de recomposição de força política, de olho numa agenda de reformas no Congresso e nas eleições do ano que vem, o cargo de presidente do BC não fará parte dessa negociação. Esse assunto, garantem fontes do governo, será conduzido de forma totalmente separada, justamente para evitar conflitos e interpretações que comprometam a credibilidade da equipe econômica.

Nessa mesma linha, o ministro Palocci vem tratado da substituição dos diretores do BC, Alexandre Schwartsman (Assuntos Internacionais) e Afonso Beviláqua (Política Econômica) que deverão deixar o cargo tão logo o ministro defina o momento adequado. Os dois, segundo fontes próximas, já teriam manifestado a intenção de sair do BC alegando motivos pessoais e aguardam apenas o sinal verde de Palocci.

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