Mudanças com Lula

Lula foi eleito presidente da República com a maior votação de toda a história brasileira. Bateu também o recorde mundial, antes do ex-presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan. Vai, portanto, para o Palácio do Planalto e para o Guinness Book. Sua eleição reflete o desejo de mudança da população e não uma adesão ao seu partido, o PT, embora seja verdade que este consolidou um crescimento que vem conquistando há vários anos, mercê de ingentes lutas, inclusive internas. Tanto isso é verdade que o Partido dos Trabalhadores não conseguiu vários governos de Estados que disputou. Estados em que Lula foi de longe o mais votado. Isso reflete a idéia popular de que a solução da maioria dos problemas depende do presidente da República, não havendo uma idéia correta e precisa sobre os papéis dos demais níveis de governo e de Poderes.

Quais as mudanças esperadas e até ansiadas levaram à retumbante eleição de Lula, um metalúrgico de extraordinária liderança que concorreu com um homem público como Serra, progressista e com vasto currículo?

Na verdade, as mudanças desejadas são as mesmas apregoadas pelo governo Fernando Henrique Cardoso e pelo próprio Serra. Deseja-se inclusão social de milhões de brasileiros que estão à margem do desenvolvimento econômico. Espera-se um nível de desenvolvimento que propicie empregos. Desejam-se sistemas previdenciário, de educação, assistência à saúde e segurança que funcionem a contento, não mantendo nem aumentando, mas acabando com as desigualdades que revelam e aprofundam.

Sendo até poucos anos atrás um partido de esquerda extremado e Lula o seu líder inconteste, o PT e o presidente eleito apontavam para a solução desses problemas, para as mudanças, com instrumentos ideológicos e programáticos que significariam uma verdadeira revolução, rejeitando o processo evolutivo pregado e tentado pelo atual governo. Processo que colheu pífios resultados diante do gigantismo dos problemas.

Agora, integrados no sistema democrático e no Estado de Direito, o PT e Lula terão o desafio de conseguir as mudanças praticamente com os mesmos instrumentos com que contaram os atuais governantes. Acreditam que poderão, com planejamento de longo prazo e negociação, apostando num novo pacto social, apressar as mudanças e consegui-las em tempo adequado. Lula insiste que é negociando que vai alcançar seus objetivos e que é o homem adequado para conseguir esse novo pacto social, reunindo em torno dos objetivos mudancistas os poderes executivo, legislativo, judiciário, governos estaduais e municipais, ONGs, organizações da sociedade organizada, empregadores e empregados e, principalmente, a força da opinião pública. Opinião pública que soube mobilizar com maestria na campanha que o levou à Presidência da República.

Uma missão muito difícil, mas não impossível. O problema é de tempo. Sabem Lula e sua equipe que todas as mudanças demandarão tempo. Algumas, serão lentas e exigirão esforços inauditos. Acontece que as necessidades que as mudanças objetivam realizar são prementes e as promessas que fizeram foram muito amplas. Isso germinou a idéia de que poderão ser implantadas em curto tempo. Muitos são os riscos do novo governo, mas o maior é não contar com a paciência e compreensão necessárias para que o voto de confiança que lhe devota perdure até que algo possa de fato mudar.

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