MST urbanizado

O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), embora tenha o reconhecimento da sociedade pela legitimidade da luta em prol duma política de distribuição de terras racional e eficaz, realidade da qual estamos longe, ao que parece, decidiu extrapolar por completo sua linha programática.

Na semana passada, o MST monopolizou o 2.º Fórum Social Brasileiro, realizado em Recife, nas dependências da Universidade Federal de Pernambuco. Segundo afirmações de um de seus coordenadores nacionais, João Paulo Rodrigues, o movimento vai se organizar para atuar também nas cidades, da mesma forma que faz nas invasões de fazendas improdutivas, na zona rural.

João Paulo acrescentou, e daí transpareceu a principal carga de apreensão motivada por sua fala, que o objetivo em vista é viabilizar o que chamou de ?revolução?, explicada pela cartilha imediatista da entidade como a resolução do problema da reforma agrária, da educação e da saúde, além de fazer com que o Estado seja menos burocratizado.

Rodrigues referiu-se aos recentes protestos ocorridos na Venezuela e na Bolívia, descartando as manifestações da juventude francesa, como bons exemplos de mobilização popular a serem seguidos no Brasil, mesmo diante do risco inevitável de choques com a força policial e outras conseqüências desastrosas.

A virada de mesa do MST, solertemente adiada para 2007, origina-se na diminuição da força do movimento e porque a maioria da população está nas cidades. Assim, o raciocínio elementar fluiu para a criação de um movimento urbano na mesma linha da Via Campesina, uma das mais influentes organizações de agricultores no mundo. A primeira manifestação de apoio ao plano de criar uma vanguarda de luta urbana veio da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

Num misto de frustração pelo reduzido avanço registrado desde a primeira invasão sob sua bandeira, agravada pela perda de credibilidade e os explícitos desvios praticados pela entidade ao longo do percurso, o MST de hoje, na primária hermenêutica de um de seus coordenadores nacionais, dá a entender que a alternativa remanescente é mudar o foco de suas ações do campo para a cidade.

Todavia, a centelha revolucionária urbana do MST somente será acesa depois das eleições de outubro, assim como não haverá novas invasões de terra. A quem o MST estaria procurando amedrontar?

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo