O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) promete manter as invasões de terra e outros tipos de forma de protesto após Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumir a Presidência. O objetivo dos integrantes do movimento é pressionar o novo governo a tomar as medidas que consideram necessárias para a reforma agrária no Brasil. A tática do MST foi reiterada hoje pela direção da entidade durante reunião com o coordenador político do governo de transição, deputado federal José Dirceu (PT-SP), e o novo presidente nacional do PT, deputado federal José Genoíno (SP), em São Paulo.
“Temos várias táticas, a ocupação é uma. O MST vai estimular as marchas, os acampamentos, as vigílias, todo tipo de pressão, de organização social para que o povo participe, seja sujeito da sua própria história fazendo seu assentamento acontecer”, disse Gilmar Mauro, da direção nacional do movimento. “Não acreditamos que a reforma agrária venha só por canetaço, é preciso participação popular”, completou.
Apesar de considerar o governo Lula e o PT “aliados”, o MST prevê que surgirá diferenças com ambos e quer preservar a sua independência. “No que for possível dialogar, avançar, evitar problemas, nós estamos dispostos a fazer. Naquilo que houver divergências, estamos dispostos a discutir, debater. Se não houver consenso, cada um defende sua posição, como acontece em toda democracia”, disse.
Ele disse que, se o governo Lula agilizar o processo de desapropriação, não tem “nenhuma dúvida” de que as invasões deixarão de ocorrer. “Ninguém gosta de fazer ocupação, como se fizesse um piquenique, fazemos porque é uma necessidade”, explicou.
Mauro previu o surgimento de tensões no tratamento da questão. ?Temos uma parte da sociedade que é a favor da reforma agrária, mas parte, principalmente os latifúndios, que é contra. Por isso é necessário a pressão de toda a sociedade, não só do MST, para resolver esse problema?, justificou.
O MST considera que, agora, tem em Lula um interlocutor que é simpático à causa da reforma agrária, ao contrário do governo Fernando Henrique Cardoso, que na visão dele, criminalizou o movimento. Com isso, o MST mudará o seu enfoque, e ao invés de criticar o governo, como faz hoje, levantará como causa o combate aos latifúndios.
“Temos de fazer campanha contra o latifúndio. Não podemos admitir que bancos no Brasil tenham 300 mil hectares de terra enquanto tem gente morrendo de fome”, afirmou o líder do movimento. “Nossa preocupação fundamental é assegurar a linha política e há o compromisso (do novo governo) de combater o latifúndio e de fazer a reforma agrária”, respondeu ele, sobre se o MST está preocupado com a demora em se divulgar a agenda do governo Lula para a reforma agrária. Mauro afirmou ainda que acredita ser possível casar o projeto de combate à fome de Lula com a reforma agrária.