Os 11 mil integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) que desde o dia 2 marcham em direção a Brasília, podem ficar mais tempo do que o previsto na capital federal. Previsto para o dia 17, o encerramento da marcha pode ser prorrogado, dependendo da necessidade, informou hoje o coordenador nacional Valdir Misnerovicz.
"A data do nosso retorno para os Estados não está fechada." A volta será determinada pelo andamento das negociações com o governo. "Depois que estivermos lá, vamos fazer uma avaliação dos passos seguintes." Os sem-terra voltarão de ônibus para os 23 Estados de origem. A coordenação de cada Estado cuidará do deslocamento da sua delegação, assim que a direção-geral da marcha autorizar. Hoje os sem-terra caminharam mais 12 quilômetros, acampando em Abadiânia.
Foram completados 122 quilômetros de marcha a partir de Goiânia, pela rodovia BR-060. O tempo encoberto favoreceu a caminhada. Nesta terça-feira a caravana deve avançar mais 14 quilômetros.
Helicóptero
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) prevê problemas para o trânsito a partir da quarta-feira, quando a marcha atinge 14 quilômetros de pista simples, na BR, no município de Alexânia. Segundo o inspetor Marcos José da Silva Cordeiro é um trecho muito perigoso por causa das curvas. Como os sem-terra utilizam o acostamento e a faixa da esquerda, vai sobrar apenas a faixa da direita para os veículos.
"Vamos adotar a operação pare e siga, mas é um trecho longo e deve haver engarrafamentos", previu. Os postos de policiamento rodoviário de Brasília e Anápolis vão orientar os motoristas a evitarem a rodovia no período da manhã. A opção será a BR-070, com um aumento de cerca de 30 quilômetros no percurso. As condições da rodovia são um pouco piores.
Desde o dia 2, a PRF acompanha a marcha com 10 carros, quatro motocicletas e 30 policiais. O aparato será reforçado, a partir de quinta-feira, com um helicóptero. "Será útil para nos passar as coordenadas sobre o trânsito", disse Cordeiro. A aeronave será deslocada de Brasília e vai acompanhar a marcha até o final.
Segundo o inspetor, à exceção do primeiro dia, quando a saída de Goiânia atrapalhou o trânsito, não houve problemas mais sérios. "Até aqui, o transtorno para os usuários foi mínimo." A equipe é a mesma que partiu de Goiânia.
A "operação marcha" começa às 3h30, com o deslocamento das viaturas e a sinalização da rodovia. O trabalho de todo o grupo se estende até as 16h, quando termina a sinalização do local do acampamento. Durante a noite, um carro permanece fazendo rondas na rodovia e a equipe fica de prontidão.
Crimes
O MST elegeu a federalização do julgamento dos crimes praticados contra trabalhadores rurais e sem-terra como uma das bandeiras do movimento. Será uma das questões a serem tratadas em Brasília.
Segundo Misnerovicz, a medida é necessária porque uma das causas do aumento nessa violência é a impunidade. "O Poder Judiciário local é muito atrelado ao latifúndio", disse. A federalização eliminaria a influência dos latifundiários sobre os juízes, segundo ele. A reivindicação tem o apoio de outros movimentos sociais que lutam pela terra.
Segundo dados levantados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), 1.801 pessoas envolveram-se em conflitos agrários no País em 2004. Em razão desses conflitos, 39 pessoas foram assassinadas. Em 2003, foram 73 mortes. Só a CPT tem uma relação de 174 pessoas marcadas para morrer em função da luta pela posse da terra. De 1985 a 2004 foram assassinados 1.388 trabalhadores rurais e apenas 77 acusados dos crimes foram a julgamento.