O Ministério Público Estadual (MPE) decidiu abrir inquérito civil para investigar a atuação de três emissoras na cobertura dos ataques promovidos pelo PCC. As Redes Bandeirantes e Record terão de explicar como e por que exibiram entrevistas com supostos líderes da facção. Ambas foram contestadas pelo governo estadual. E a Rede TV! foi incluída na investigação por ter atribuído à Polícia Militar (PM) uma informação incorreta
Quem decidiu pela apuração é a promotora de Justiça do Consumidor Deborah Pierri, a mesma que, dois anos atrás, abriu inquérito para investigar entrevista forjada com dois falsos integrantes do PCC, exibida pelo apresentador Gugu Liberato, do SBT. "Temos de investigar se essa busca por pontos no Ibope é capaz de criar distorções, isso se for comprovado que as informações eram falsas. Se eram verdadeiras, a questão é se houve abuso no direito de informar", explicou a promotora
Em portaria publicada ontem, Deborah escreveu que as notícias das emissoras eram de "pesado apelo psíquico e emocional" e teriam contribuído para "exacerbar o sentimento de assombro, indignação e descrédito nas instituições responsáveis pela segurança pública"
Na semana passada, o jornalista Roberto Cabrini, da Bandeirantes levou ao ar entrevista por telefone com o preso Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola. Um dia depois, explicou que chegou ao líder do PCC através de membros da facção em liberdade e que essas pessoas e o advogado do criminoso reconheceram a voz. Ontem, a emissora não comentou o caso antes das 22 horas
A Record, por sua vez, também levou ao ar entrevista por telefone com outro suposto líder do PCC: Orlando Mota Júnior, o Macarrão. A emissora reiterou ontem o que havia dito no dia 18, no Jornal da Record, dois dias após a primeira exibição: "O jornalismo da Record não tem dúvida da veracidade da entrevista e só decidiu colocá-la no ar porque ajudava a desvendar um possível acordo entre autoridades do governo estadual e presos, acordo esse que seria condenado pela sociedade"
Em jornal da Rede TV!, o jornalista Marcelo Resende disse no ar, ao vivo, que a Polícia Militar teria orientado faculdades a suspenderem as aulas noturnas, por conta de uma suposta retomada dos ataques do PCC. Uma major da PM foi entrevistada na seqüência e negou o boato. "Houve um erro de informação que foi corrigido no ar. As demais informações se confirmaram", explicou o superintendente da Rede TV!, Dennis Munhoz. As três emissoras e os dois jornalistas citados serão notificados e terão 10 dias para enviar resposta ao MPE.