R.A.A.C, o Champinha, de 19 anos, está há quase três anos internado na Febem. Mas ainda não há – nem foi requisitado pelo Ministério Público Estadual – um laudo de sanidade mental do adolescente, acusado de estuprar, torturar e matar a estudante Liana Friedenbach, então com 16 anos, em 2003
Em 2004, foram divulgadas duas análises médicas, ou pareceres, sobre o interno: uma, feita pela Febem em março daquele ano, apontou que Champinha sofre de retardo mental moderado, tem tendência a agir impulsivamente, sem se preocupar com as conseqüências, e precisa da presença constante de uma autoridade pois pode ser influenciado. A outra análise, de outubro do mesmo ano, feita pelo Instituto de Medicina Social e Criminológica de São Paulo (Imesc), concluiu que ele "apresenta periculosidade latente por ser influenciável"
Segundo o criminalista Francisco Ruiz, um laudo de sanidade mental consiste em um estudo profundo, pesquisa toda a origem do examinado, investiga a família e levanta informações pessoais, como o tipo de parto. No caso de Champinha, ele diz temer que sua internação seja prorrogada sem ser feita toda essa análise. "No meu ver, falta amparo legal para mantê-lo preso", diz
Até ontem, o MP ainda não havia solicitado um laudo ao Imesc, segundo a Assessoria de Imprensa da Secretaria de Justiça. Nenhum promotor da Infância e Juventude foi encontrado ontem para comentar qual o futuro de Champinha, que deve sair da Febem em novembro, quando completa três anos de internação. "O Judiciário tem de se manifestar. O MP é o fiscal da lei", afirma o criminalista Sergei Cobra Arbex
Para ele, o caso tem de ser profundamente analisado, por conta do grau de crueldade e pela repercussão obtida. "Se não foi feito um laudo, o Estado falhou.
Champinha vive isolado na Febem. Sua identidade e seu paradeiro são mantidos em sigilo, por segurança. Ele é apontado como o mentor do crime – confessou ter dado 15 facadas em Liana, depois de mantê-la quatro dias num cativeiro, abusar sexualmente dela e oferecê-la a comparsas
De família humilde, o rapaz foi criado em um sítio em Embu-Guaçu. Na região, alguns o definiam como um "terror", o "bandidinho da área". Outros diziam que tinha comportamento de criança