Rio de Janeiro – O sub-procurador geral de Justiça do Rio de Janeiro, Leonardo Chaves, e o presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do estado, deputado Alessandro Molon (PT), foram nesta quarta-feira (23) à Vila Cruzeiro ouvir pessoalmente as queixas dos moradores.
A comunidade é uma das que formam o Complexo do Alemão, cercado há 21 dias. O confronto entre polícia e traficantes já deixou pelo menos 15 mortos e 55 feridos. Apenas hoje, mais duas pessoas foram vítimas de ferimentos por balas perdidas na região.
?Está todo mundo em pânico, não temos mais sossego e nem podemos sair para lugar algum", contou a dona-de-casa Edna Maria dos Santos. "Não temos mais lazer, só ficamos dentro de casa. Se vai ao mercado, tem que voltar correndo. Isso não é vida. Não é porque a gente mora na favela que temos que ser abandonados e desprezados?.
A reunião com o sub-procurador e o deputado estadual contou com a participação de 22 líderes comunitários. Foi realizada em um centro esportivo localizado na Vila Crizeiro. Nas casas em volta da comunidade, eram visíveis as marcas de tiros em paredes, portas e muros.
Os moradores dizem que a polícia é autora dos disparos. Segundo eles, os policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) – que conduzem o veículo blindado popularmente conhecido como "Caveirão" – disparam grandes quantidades de tiros, que acabam atingindo as casas e o comércio local.
O sub-procurador disse que vai investigar o procedimento dos policiais. ?Se estiverem fazendo isso e o fato for procedente, vamos agir com rigor em defesa do estado democrático de direito. Não vamos tolerar e conviver com este tipo de abuso, se é que ele existe?.
A assessoria de comunicação da Polícia Militar (PM) rebateu as acusações dos moradores. Afirmou que o Bope é formado por uma tropa de elite treinada para não disparar a esmo, procedimento que, segundo a PM, é característico dos traficantes.
Localizado na zona Norte do Rio, o Complexo do Alemão tem 65 mil habitantes e reúne 13 favelas: Morro Alemão, Grota, Nova Brasília, Alvorada, Alto Florestal, Itararé, Morro Baiana, Morro Mineiro, Morro da Esperança, Joaquim de Queiroz, Vila Cruzeiro, Morro das Palmeiras e Morro do Adeus. A área é compreendida por cinco bairros: Inhaúma, Bonsucesso, Ramos, Olaria e Penha.
As operações policiais no Complexo do Alemão começaram no dia 2 de maio, um dia depois do assassinato de dois PMs dentro de uma viatura, em Oswaldo Cruz.