O Ministério Público Estadual (MPE) vai atacar as fontes financeiras do Primeiro Comando da Capital (PCC) como forma de reduzir o potencial ofensivo da organização contra o Estado. A facção arrecada cerca de R$ 700 mil mensais com tráfico de drogas e mensalidades de integrantes em liberdade. Sem dinheiro, os integrantes não teriam como adquirir armas, combustível e explosivos para dar continuidade às centenas de ataques que vêm promovendo desde maio contra prédios públicos e comerciais, ônibus, bases policiais, viaturas e homens das forças de segurança.
Prevendo esse contra-ataque da Justiça, o PCC dividiu em células seu poder econômico para evitar a total descapitalização da facção em caso de prisão de seus tesoureiros. Mas a estratégia foi descoberta pela inteligência da Polícia Civil e da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP). O Ministério Público já começou a análise de dezenas de contas suspeitas.
Na semana passada, o MPE pediu e a Justiça autorizou o seqüestro de R$ 162 mil apreendidos com um dos tesoureiros da facção, Deivid Surur, o DVD, em julho do ano passado. O dinheiro será utilizado para indenizar a família do bombeiro João Alberto da Costa, executado pelo crime organizado na madrugada do dia 13 de maio.
O procurador-geral da Justiça, Rodrigo César Rebello Pinho, afirmou que o contra-ataque às finanças da facção não param por aí. Ele disse que o MPE vai atuar com rigor contra o PCC, isolando seus líderes em presídios de regime disciplinar diferenciado (RDD) e secando as fontes financeiras da organização.
"Vamos seqüestrar as contas existentes. Estamos fazendo um cruzamento de informações nesse sentido junto com a Polícia Militar, Polícia Civil, SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) e Secretaria de Segurança Pública (SSP)", afirmou Pinho.
Na Capital, segundo fontes da polícia, essa troca de informações caminha em passos lentos, mas no Interior, principalmente na região Oeste do Estado, onde estão detidos os principais integrantes da facção criminosa, a integração entre as instituições está bem adiantada.
Exemplo
A instalação de um núcleo do Departamento de Inteligência da Secretaria da Administração Penitenciária (Disap) reforçou a rede de informação das polícias Civil e Militar e do Ministério Público.
Treinados, agentes do Disap passaram a valorizar o material apreendido nas blitze nos presídios. Livros, cadernos e até papéis avulsos, que antes eram considerados lixo, passaram a ser fonte inesgotável de informações sobre o crime organizado. As anotações registram tudo. Desde nome e celular dos principais integrantes da facção no Estado, número de contas em que movimentam o dinheiro do tráfico de drogas, valores arrecadados com as rifas dentro e fora dos presídios, os controladores dos transportes, e todas as ordens repassadas aos comandados.
Há quatro meses, o Disap da Coordenadoria dos Presídios da Região Oeste tem absorvido os dados para abastecer as Polícias Civil, Militar, Federal e o Ministério Público. As apreensões resultaram na descoberta de centenas de contas de familiares de presos que tem sido utilizadas pelo PCC para pulverizar seus recursos financeiros.
Um único livro apreendido no mês passado na Penitenciária 1 de Mirandópolis contém cerca de 200 números de telefones e mais de 100 nomes de integrantes e apelidos de 57 "sintonias", espécie de gerentes que repassam ordens da cúpula da facção para 29 presídios.
O Jornal da Tarde apurou que o MPE de Presidente Prudente vem trabalhando numa extensa lista de contas bancárias. "Estamos triando algumas contas para pedir à Justiça a quebra de sigilo e posterior bloqueio", informou um dos promotores que atuam nas investigações.
Para adquirirem base para análise da movimentação financeira da organização, policiais e promotores da região Oeste já se reuniram com representantes do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) da região. O resultado dessa integração deve começar a surgir nos próximos 60 dias.