Não se pode afirmar que os escândalos que se repetem e atingem o governo Lula venham a acabar com o prestígio do operário que chegou à Presidência da República. Mas é interessante meditar sobre opiniões que a imprensa estrangeira vem divulgando sobre o que está acontecendo no Brasil, isto porque as observações isentas e feitas a conveniente distância oferecem visões em melhor perspectiva.
O prestigioso Herald Tribune, de Londres, disse que o escândalo ?decreta a morte do lulismo? e reduz a aura do presidente. Para o jornal britânico, a mítica do presidente do Brasil sobreviveu a uma série de desilusões causadas a seus eleitores tradicionais. Referiu-se, especificamente, à manutenção de uma política econômica ortodoxa, apesar de tê-la sempre combatido, com seu partido, pois é a mesma política praticada pelo governo Fernando Henrique Cardoso. Para sobreviver à desilusão de haver continuado uma política econômica que o PT tachava de neoliberal e condenava com firmeza, laborou a crença popular na integridade de Lula e do seu partido.
?Mas nas últimas semanas tudo veio abaixo e foi decretada a morte do lulismo, como seu credo político é conhecido?, afirmou o jornal londrino. Referiu-se a denúncias de corrupção que atingem integrantes do PT. Elogia o fato de a ?vibrante imprensa? brasileira estar publicando ?história atrás de história? sobre o assunto. E acrescenta que a imprensa do Brasil ?poderia passar algumas dicas a colegas da América do Norte?, onde a imprensa não seria tão vigilante em relação ao governo George Bush.
O The Times disse que Lula chegou à Escócia para a reunião do G8, como convidado de um país pobre, ?à sombra de um escândalo que provocou a pior crise nos dois anos e meio de vida do primeiro governo de esquerda de seu país?.
El País, da Espanha, também se referiu ao que está acontecendo no Brasil, dizendo que ?o pesadelo de Lula? parece não ter fim e o prestígio do presidente brasileiro ?se deteriora a cada momento?. Acrescentou que ?as possibilidades de que ele aspire à reeleição nas eleições presidenciais de outubro do ano que vem se reduzem a um mínimo?. O mesmo jornal disse que ?ironicamente, os únicos que cruzam os dedos para que a alternativa a Lula não seja algo pior são os empresários, satisfeitos com o resultado positivo que o programa de Lula teve para a economia e aterrados com o que pode ser um futuro sem ele?.
La Nación, da Argentina, disse que os empresários daquele país que têm negócios com o Brasil continuam otimistas, apesar dos escândalos. Consideram que ?a economia e o ambiente de negócios não serão afetados pela crise política?.
Corretas ou não – provavelmente corretas – essas opiniões ganham maior importância por serem a visão de quem está distante e escreve para um público de países que têm conosco relações da mais variada ordem, a principal delas de natureza econômica. O conceito ético do governo brasileiro pode influir negativa ou positivamente nos negócios com outras nações. E eles são indispensáveis à consecução de nossas aspirações de desenvolvimento econômico.