Morte de brasileiro foi autorizada por policial de alta patente da Scotland Yard

Uma das policiais mais graduadas da Scotland Yard, a comandante Cressilda Dick, de 44 anos, autorizou por rádio seus agentes a matar o brasileiro Jean Charles de Menezes, atingido por oito disparos, sete na cabeça e um no ombro, segundo reportagem do editor-chefe de polícia do jornal britânico Daily Mail, Stephen Wright.

O diário dedicou hoje uma página ao assunto e relatou alguns detalhes sobre o incidente. Fontes policiais entrevistadas pelo jornal observaram, no entanto, que a decisão final de matar ou não um suspeito cabe aos policiais presentes no local da operação. Um porta-voz da Scotland Yard não quis comentar o tema. "Não vamos revelar nenhum detalhe desse caso nem comentar reportagens da imprensa", disse à Agência Estado.

Embora a polícia continue evitando revelar oficialmente qualquer detalhe, a imprensa britânica diariamente vai tentando montar o quebra-cabeça para esclarecer a morte do brasileiro. Segundo The Guardian, ainda não está claro se Jean foi alertado verbalmente pelos policiais antes de ser morto.

Mas o jornal afirma que a polícia recebeu orientação de que não é necessário fazer qualquer interpelação verbal a um suspeito de ser homem-bomba, dentro da política de "atirar para matar" adotada pela Scotland Yard. O Daily Mail informou que os três policiais que atiraram contra Jean foram afastados de operações armadas enquanto são investigados por uma comissão independente. Dois deles estão em férias.

Segundo o Daily Mail, Cressilda Dick, que é chamada pelos policiais como Cress, cursou a universidade de Oxford e tem um salário anual de 90 mil libras, cerca de R$ 480 mil. Ela estava no comando da operação armada que resultou na morte.

Outros policiais envolvidos na operação pediram a aprovação dela para disparar contra Jean, após relatarem que o brasileiro – cuja identidade ainda era desconhecida – estava se comportando de modo muito suspeito após sair de um bloco de apartamentos que estava sendo vigiado pela Scotland Yard.

O jornal diz que policiais à paisana teriam ficado preocupados pelo fato de Jean estar usando uma jaqueta pesada numa manhã de relativo calor, uma versão negada pela família dele. Temendo que o brasileiro fosse um homem-bomba, os policiais solicitaram a superiores uma orientação urgente do que fazer, enquanto seguiam Jean rumo à estação de metrô de Stockwell.

O pedido foi transmitido através de sistema de rádio para a sede da Scotland Yard, onde Cress era a comandante das operações armadas na sexta-feira passada. Ela imediatamente consultou assessores especializados em táticas armadas.

Nesse ponto, afirma o jornal, ela decidiu adotar os procedimentos da Operação Kratos, um plano da Polícia Metropolitana de Londres para lidar com suspeitos de ser homens-bomba. A Operação Kratos determina que, se há uma avaliação de que um suspeito pode representar perigo iminente, os policiais devem atirar em sua cabeça para garantir que ele morra imediatamente e seja incapaz de detonar um explosivo. Poucos momentos depois, Jean foi alvejado.

Segundo o Daily Mail, Cress é considerada por muitos colegas uma protegida do chefe da Polícia Metropolitana, sir Ian Blair.

Os colegas afirmam que ela está "em pedaços" e "devastada" com o que aconteceu. Ian Blair teria dado seu apoio total a ela, cujo papel no incidente será investigado por uma comissão independente. "Todo mundo lamenta por Cress", disse ao jornal um colega graduado. "Ela é uma oficial da polícia que teve de tomar uma decisão urgente de vida e morte. Se ela não tivesse dado a autoridade para o homem ser alvejado, e ele tivesse explodido um trem, também teria ocorrido um protesto em massa."

O Daily Mail observa que a policial, que era cotada para ser promovida, tem agora um futuro incerto. Sua decisão de implementar a Operação Kratos será examinada detalhadamente pela Comissão Independente de Reclamações sobre a Polícia. Ela provavelmente também enfrentará um questionamento intenso na Justiça, caso a família de Jean decida processar a polícia em busca de compensação financeira. Um dos pontos fundamentais de investigação serão os erros de serviço de inteligência que levaram Jean a ser equivocadamente identificado como suspeito de ser terrorista.

Cress é um dos comandantes do departamento de crimes especializados da polícia Metropolitana. Ela é responsável por 300 policiais da Operação Trident, um esquadrão que combate ao crime armado nas comunidades negras de Londres.

O jornal The Guardian disse que não há necessidade de os policiais interpelarem verbalmente um suspeito antes de alvejá-lo. "Se a equipe armada estiver razoavelmente certa de que a pessoa é um terrorista suicida não há necessidade de avisá-lo verbalmente", disse uma fonte policial. Segundo o jornal, há um grande questionamento dentro da polícia sobre a decisão de permitir que Jean pegasse um ônibus antes de ser alvo da ação policial. "Quando a verdade surgir será horrível", disse um policial graduado ao jornal.

Ian Blair informou que desde os ataques terroristas de 7 de julho já ocorreram 250 incidentes nos quais a polícia pensou que poderia estar diante de um homem-bomba. Segundo ele, em sete ocasiões a polícia esteve prestes a agir. Essa informação elevou o temor entre os imigrantes no país, principalmente os muçulmanos, de que novos erros policiais possam ocorrer.

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