O filósofo autodidata, ex-deputado federal e jornalista Roland Corbisier morreu aos 90 anos, no início da madrugada de hoje, de embolia pulmonar, decorrente do Mal de Parkinson, doença contra a qual lutava havia pelo menos dois anos. O corpo foi velado no cemitério São João Batista, em Botafogo, na zona sul do Rio. E o caixão, coberto com a bandeira do Brasil e sob o Hino Nacional, cantado por parentes e amigos, levado para para o cemitério do Caju. O enterro foi às 15h.
Corbisier foi um dos fundadores e o primeiro diretor do Instituto Superior de Estudos Brasileiros, o Iseb (1954-1962), órgão do Ministério da Educação que promovia cursos e publicações numa linha nacional-desenvolvimentista e foi extinto em 1964, nos primeiros dias do regime militar.
"É menos um do nosso lado", sintetizou a deputada federal Jandira Feghali (PC do B). Para ela, Corbisier foi um "marco na luta ideológica pelo marxismo". Ele morreu no PC do B, mas já havia sido filiado ao PT e ao PTB, pelo qual se elegeu deputado federal, em 1964 – mandato que foi cassado pelo regime.
Como filósofo, evoluiu do existencialismo e do integralismo na década de 30 para o marxismo na década de 60. O que, para o filho mais velho de Corbisier, José Eduardo, de 61 anos, é o seu principal legado: "Foi um homem que soube dar uma reviravolta, ele bebeu das fontes européias e a partir daí começou a pensar a filosofia em termos nacionais, o que nunca havia sido feito antes".
O paulistano Roland Cavalcanti de Albuquerque Corbisier nasceu em 1914. Filho de uma família tradicional do Rio e de um descendente de imigrantes franceses, estudou nos colégios católicos mais tradicionais de São Paulo. Formou-se em Direito, mas não seguiu carreira, preferiu trilhar o caminho das letras e da filosofia.
Escreveu artigo para revistas e jornais e fundou a Livraria Planalto, em 1946. Foi redator e colaborador do jornal "O Estado de S. Paulo" por 15 anos, a partir de 1949. Com o Iseb percorreu as principais cidades do País dando cursos sobre a realidade brasileira, com intelectuais como Helio Jaguaribe, Anísio Teixeira e Roberto Campos.
Foi eleito deputado estadual pela Guanabara em 1962. Dois anos depois, como deputado federal, lutou pelas Reformas de Base defendidas pelo governo João Goulart. Além de ter o mandado cassado no início do governo militar, Corbisier foi preso cinco vezes no mesmo ano. Proibido de dar aulas, passou a organizar cursos clandestinos sobre o marxismo, burlando a censura com nomes como Filosofia da Estética, da Ética etc.
Obra – Corbisier publicou 15 livros, entre os quais "Enciclopédia Filosófica" (1964), que expõe o pensamento filosófico ocidental pela ótica de um brasileiro, "Autobiografia Filosófica" (1978), que narra sua trajetória ideológica, e "Os Intelectuais e a Revolução" (1980), que mostra o papel da esquerda acadêmica no processo revolucionário brasileiro.
Corbisier – Deixou três filhos – José Eduardo, Ana e Claudia -, quatro netos, três bisnetos e a esposa, Rosália.