A atriz Zilka Sallaberry morreu hoje, aos 87 anos, no Hospital Samaritano, onde estava internada desde 15 de fevereiro. Segundo o boletim médico, a causa da morte foi "insuficiência respiratória proveniente de infecção pulmonar associada a arritmia cardíaca". Seu corpo foi velado hoje na capela do Memorial do Carmo no bairro do Caju, zona norte da cidade, e deve ser cremado amanhã (11) de manhã.
Zilka esteve internada algumas vezes nos últimos anos por causa de problemas respiratórios, mas a Rede Globo, onde ela trabalhou praticamente desde a fundação, pretendia chamá-la para as comemorações dos 40 anos da emissora. "Foi quando soubemos de sua doença", contou o roteirista e diretor de teatro Flávio Marinho. Afastada da televisão desde 98, quando fez o remake da novela "Pecado Capital", Zilka morava em Copacabana, onde era sempre vista e reconhecida pelo público.
Para os maiores de 40 anos, ela é a eterna Sinhana, mãe dos "Irmãos Coragem", na primeira versão da novela, em 1970. Os mais jovens se lembram da primeira Dona Benta, do "Sítio do Pica Pau Amarelo", entre 1976 a 1986. Mas a carreira da atriz Zilka Salaberry, é muito mais ampla. Durou sete décadas, no teatro, cinema e TV. Ela começou no fim dos anos 30, na companhia de Procópio Ferreira, com os pais e a irmã Lourdes Mayer, todos atores. Os últimos foram o remake da novela "Pecado Capital", como a Bá, em 1998, na Rede Globo, e o filme "Xuxa e os Duendes 2", há três anos.
No miolo, ela fez de tudo. O clássico "Os Possessos", de Dostoievski, ao lado de Sérgio Brito, a peça infantil "A Rainha do Fundo do Mar", de Lúcia Benedetti e "Na Copa do Mundo", em 1950, em que ficava nua. Foi a primeira atriz brasileira a cometer tal ousadia. "A cena tinha muita sutileza. Eu ia tirando a roupa e virava de costas para tirar o sutiã. Aí as luzes se apagavam", contou ela em entrevista em 1998, quando fazia a Bá. Na ocasião, estava quase aposentada e adorou ser lembrada. "Ficar em casa sem fazer nada é muito chato, pois eu gosto de trabalhar."
O Sallaberry veio de seu marido o também ator Mário Sallaberry, pai de seu único filho, que preferiu ser advogado. Este lhe deu dois netos e uma neta que estavam constantemente com ela, no apartamento de Copacabana, onde vivia desde os anos 60. "Aqui em casa tem sempre movimento, meus netos moram neste prédio e não têm hora para entrar ou sair."
Tal como o público de meia-idade, seu papel preferido era a Sinhana. "Ela tinha força, coragem e tomava a frente de tudo, até ocorrer a tragédia da morte do filho (personagem de Cláudio Cavalcanti). Então, se calava para sempre", lembrou ela, que viveu mais duas velhinhas muito populares, a vovó motoqueira de "A Corrida do Ouro", em 1974 e a mãe do agente secreto "Araponga" (1990), vivido por Tarcísio Meira. Já o sucesso da Dona Benta foi surpresa. "Sou muito agitada e achava que a personagem não combinava com o meu temperamento. Mas as pessoas me chamam de Dona Benta até hoje."
Quando Xuxa a chamou para seu filme, foi outra festa, mas seu papel foi pequeno porque ela não tinha mais saúde para as extensas horas que o cinema exige. Depois disso, Zilka pouco apareceu e, no dia 15 de fevereiro, foi internada com infecção urinária, desidratação e complicações pulmonares. Não se recuperou e morreu hoje às 4h25. A atriz foi embora, mas Dona Benta, Sinhana, a Bá não, porque ela as tornou imortais. E Zilka sabia quanto era amada pelo público. "As pessoas me encontram na rua e perguntam quando eu vou voltar", comemorava ela. "Digo que se me chamam, estou sempre pronta."