Um médico italiano aplicou uma injeção letal e desligou os aparelhos que mantinham vivo o poeta e escritor Piergiorgio Welby. Nos últimos meses, o paciente havia aparecido em um programa de TV e escrito ao presidente da Itália para pedir a sua morte. Welby sofria de distrofia muscular e era mantido vivo desde 1997 por um respirador e alimentação por meio de sondas. A morte desencadeou um inflamado debate sobre eutanásia no país.
O primeiro-ministro da Itália, Romano Prodi, considerou que foi aberto um debate que "terá que ser levado em frente". Apesar disso, ele havia defendido a permanência da vida de Welby. O deputado do Força Itália Enrico la Loggia, da coalizão conservadora, destacou que a morte do poeta foi um ato "ilegal". O deputado da União dos Democratas-Cristãos (UDC) Luca Volonté pediu a prisão do médico às autoridades, que, para ele, deveria ser acusado de homicídio. Na semana passada, o papa Bento XVI reafirmou a posição do Vaticano contrária à eutanásia.
"O caso de Welby não é eutanásia. Trata-se apenas de se recusar a receber um tratamento", disse o anestesista Mario Riccio, responsável pelo desligamento dos aparelhos. As testemunhas disseram que Welby agradeceu três vezes antes de morrer aos amigos e aos que o apoiaram em sua batalha legal. Welby completaria 61 anos na terça-feira e sofria de distrofia muscular havia 40 anos. Sua luta começou em setembro, quando enviou uma carta ao presidente da República, Giorgio Napolitano, em que reivindicava seu "direito à eutanásia". Logo depois, enviou também um pedido oficial a um de seus médicos para pedir que o tratamento fosse suspenso e que o respirador fosse desligado, e apresentou seu caso ao Tribunal Civil de Roma.
Entretanto, nem o Tribunal, nem o relatório divulgado ontem pelo Conselho Superior de Saúde, que estudou o caso, deram razão ao doente. A Justiça entendeu que o direito de retirar o respirador não estava "concretamente garantido" pela lei italiana. Advogados questionaram a decisão dizendo que a Constituição sustenta que ninguém pode ser obrigado a aceitar tratamento de um médico. Welby decidiu não esperar por uma resolução jurídica e o anestesista Riccio, que trabalha em um hospital de Cremona, no norte da Itália, decidiu atender seu desejo. O médico disse hoje, em entrevista coletiva, que o doente confirmou sua "vontade de ser sedado e interromper" a respiração artificial. A entrevista foi convocada pelo Partido Radical italiano, que recentemente se transformou em porta-voz da batalha de Welby.