Viena – Ex-produtor de coca e líder da categoria, o presidente da Bolívia, Evo Morales, defendeu hoje (11) a "revalorização do cultivo" da planta e sua industrialização com "fins benéficos para a humanidade". Ao expor sua nova idéia de "racionalização da produção" da erva, Morales insistiu que seu governo adotará uma política de "cocaína zero e narcotráfico zero", contrária ao livre cultivo da coca. Não apresentou detalhes sobre como sua política será aplicada, na prática, mas deixou claro que não buscará nenhum tipo de ajuda dos Estados Unidos.
"Eu me oponho à erradicação forçosa da coca. Sou produtor de coca", declarou. "Lamento muito que Estados Unidos tenha ganhado tanto com a Coca-Cola e que não seja mais problema deles. Para a Coca-Cola, a coca é legal. Para nós é ilegal", completou Morales
O presidente boliviano lembrou que, nos últimos anos, duas políticas aplicadas com a finalidade de erradicação do cultivo da coca fracassaram. A primeira, previa a compensação para produtores que reduzissem a área plantada. A segunda, com apoio de Washington, previa a erradicação forçada, sob controle militar. Morales argumentou ainda que cabe aos Estados Unidos e à União Européia boa parte da responsabilidade pelo narcotráfico devido à ausência de controles dos produtos químicos utilizados na conversão da coca em cocaína e crack.
Também acusou o estímulo da produção de folhas de coca pelos espanhóis, no período colonial, e do consumo entre mineiros bolivianos pelos Estados Unidos no século XX. "O verdadeiro narcotraficante não está nas prisões bolivianas. O verdadeiro narcotraficante está vestido de terno e gravata e girando seus dólares nos bancos", declarou, trajado com sua costumeira jaqueta marrom.