O presidente da Bolívia, Evo Morales, disse ontem que está disposto a falar diretamente com seu par do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, para definir o novo preço do gás boliviano. "Se é importante a participação dos presidentes, vamos fazer. O importante é avançar nas negociações sobre os novos preços", afirmou.
Técnicos da Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) e da Petrobras concluem amanhã a quarta e última rodada de reuniões para discutir a cláusula que define a fórmula de reajuste do gás comprado pelo Brasil.
A diretoria de gás e energia da Petrobras já entregou à YPFB um documento no qual explica por que não considera necessárias as mudanças das regras. A Petrobras argumenta que o contrato permite reajuste trimestral conforme a evolução do mercado internacional e isso assegura equilíbrio econômico-financeiro do contrato.
Andrés Soliz Rada, ministro de Hidrocarbonetos da Bolívia, afirma que o fracasso da reunião "abrirá as comportas para que o preço seja definido por um tribunal arbitral". Pelo contrato, a corte arbitral que poderá decidir sobre o assunto fica em Nova York.
Evo Morales, que promoveu em maio a nacionalização dos hidrocarbonetos da Bolívia, tenta conseguir um aumento entre 80% e 100% no preço do gás que exporta para o Brasil, que paga atualmente US$ 4 por milhão de BTU (unidade térmica britânica, na sigla em inglês). O líder boliviano já aplicou medida similar à Argentina, que aceitou reajuste de 65% no preço do combustível alcançando o valor de US$ 5 por milhão de BTU.
Sem contato
A assessoria de comunicação do Ministério de Relações Exteriores do Brasil afirmou ontem que não recebeu nenhum pedido da chancelaria boliviana para uma nova conversa entre os dois presidentes.
É a terceira vez que Evo tenta negociar o contrato de gás diretamente com Lula. Na primeira tentativa, ocorrida no evento que marcou a adesão da Venezuela como membro pleno do Mercosul, em Caracas, o presidente boliviano chegou a se encontrar com Lula para discutir o reajuste do preço do gás. Não obteve sucesso.
Foi neste contato que o presidente Lula sugeriu a criação de uma "agenda positiva" entre Brasil e Bolívia. Dias depois, diretores do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) desembarcaram em La Paz com a oferta de crédito ao governo Evo para a aquisição de máquinas agrícolas do Brasil.
A Associação Nacional dos Veículos Automotores (Anfavea), entidade do setor automobilístico que inclui um grupo de fabricantes de máquinas agrícolas, chegou a participar do encontro e ainda aguarda as licitações do governo boliviano para tentar ampliar a venda de equipamentos para o país vizinho.
O eventual envolvimento do presidente Lula na discussão do contrato de gás converteria uma discussão de cunho técnico em político. Segundo opinião colhida no interior da Petrobras, a ingerência do governo no contrato seria muito mal interpretada pelo mercado. (Com informações da AFP).