Missão de paz no Haiti tem de ser repensada, diz consultoria de segurança

A força de paz liderada pelo Brasil no Haiti é mal preparada, tem um sistema de inteligência falho, pessoal desqualificado, pouco dinheiro e mandatos conflitantes em relação à atuação da polícia local. Essa é a avaliação de um dos principais grupos de consultores internacionais sobre segurança, o International Crisis Group (ICG) com sede em Bruxelas. Entre os membros do conselho da entidade estão personalidades como o ex-comandante da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Wesley Clark, e Lord Patten Barnes, ex-comissário europeu para Relações Exteriores.

O relatório preparado pelos consultores estima que a Força Militar da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah) precisa tomar novas medidas para lidar com a violência no país. "As ações militares não atenderam às expectativas nem da sociedade do Haiti nem da comunidade internacional", afirma o documento.

Desde setembro de 2004, cerca de 600 civis foram mortos no país em decorrência da falta de segurança.

Segundo a avaliação, se essas mortes continuarem, os riscos para forças internacionais é de que se criará uma maior hostilidade da população contra a ONU. "A Minustah não consegue responder aos atos de violência como sequestros e roubos ", avalia o documento.

Segundo os consultores, a força internacional também não consegue investigar alegações de violações aos direitos humanos por parte da polícia do Haiti. Ao aceitarem muitas vezes a versão da polícia local, contribuem para o sentimento de impunidade que reina no país desde o início da crise. Para os especialistas, as forças policiais precisam contar com 4,6 mil homens, e não os atuais 1,6 mil policiais. A ONU ainda deve privilegiar a incorporação de novos agentes de segurança que falem francês, língua entendida pela maioria da população, e não o portugues.

Na avaliação dos consultores, um dos principais problemas das forças comandadas pelo Brasil é a falta de informação para identificar quem e onde estão os líderes dos grupos armados responsáveis pela manutenção da instabilidade no Haiti. Sem esse serviço de inteligência apurado, o ICG acredita que as tropas internacionais não terão como atuar para neutralizar os grupos que querem desestabilizar as diferentes regiões do Haiti. Como resultado dessa falta de informações, os especialistas indicam que existe a falta de uma estratégia de segurança para o país. No que se refere ao desarmamento, o ICG aponta que muito pouco foi feito.

Embora reconheça os problemas da falta de recursos, os especialistas acreditam que as tropas internacional devem atuar de forma mais intensa para promover a responsabilidade cívica, a tolerância e o desarmamento do Haiti, inclusive por meio de programas de rádio.

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