Ex-reitor da universidade e governador de Brasília, senador da República, escalado pelo presidente Lula para o Ministério da Educação no início do governo, o brilhante intelectual Cristovam Buarque não se sente confortável no Partido dos Trabalhadores.
É possível que a essa altura já tenha tornado público o abandono da legenda, como se passou a aventar desde domingo, quando o senador compareceu ao velório de Miguel Arraes, em Recife.
Demitido do cargo de ministro em telefonema disparado a Lisboa, onde se encontrava a serviço, Cristovam voltou a integrar a bancada do PT no Senado, mas em nenhum momento deixou transparecer quaisquer mágoas quanto ao tratamento brusco que lhe foi dispensado. Coerente, sempre teve conduta leal à orientação partidária, embora jamais tenha dispensado a mínima subserviência ao núcleo de poder da executiva nacional do partido.
Uma corrente liderada pelo senador Eduardo Suplicy tentava, nas últimas horas, demover Cristovam do intento de abandonar o PT. Com justiça, pois essa viria s ser perda insanável para um partido catapultado do céu ao inferno em pouco mais de doze semanas.
Com número já restrito de operadores capazes de transmitir à nação um laivo de credibilidade depois de tudo o que se viu, perder personagem de brilho próprio como o senador por Brasília pode significar para o PT o começo de lacrimosa missa de réquiem.