Dividida e tensa, a Venezuela vai neste domingo (03) às urnas para, pela quarta vez em oito anos, decidir a sorte do mais polêmico chefe de Estado sul-americano.
Cerca de 16 milhões de venezuelanos estão inscritos para uma eleição presidencial que começou com 23 candidatos – dos quais 10 desistiram antes do fim da campanha -, mas que tem no presidente Hugo Chávez Rafael Frías e no governador licenciado do Estado de Zulia, Manuel Rosales Guerrero, a principal disputa.
Apesar dos quase 9,5% de crescimento da Venezuela no ano passado – conseqüência do alto preço internacional do barril do petróleo produto do qual o país é o quinto exportador mundial – o governo de Chávez obteve resultados modestos na área social.
A população considerada abaixo da linha de pobreza – que vive com menos de US$ 1 por dia – aumentou de 47%, em 1998, para 52%, em 2005. O desemprego também cresceu nesse mesmo período, de 12 2% para 13,5%. Os efeitos desses números podem ser constatados pelas ruas do centro de Caracas, deterioradas e tomadas por pedintes e ambulantes.
Mas, paradoxalmente, Chávez aparece como favorito na maioria das pesquisas de intenção de voto – com até 19 pontos de vantagem – contestadas por seu adversário.
Rosales tem como principal mérito, segundo os analistas venezuelanos, ter catalisado o voto da oposição a Chávez. O governador concorre por uma coalizão de oito partidos, incluindo o Primero Justicia, de direita, o tradicional partido social-cristão Copei, o socialista MAS (Movimento ao Socialismo) e o comunista moderado Bandera Roja (Bandeira Vermelha).
Os dois candidatos encerraram sua campanha na semana passada em Caracas – Rosales no sábado e Chávez, no domingo – com manifestações em massa que reuniram entre 700 mil e 2 milhões de pessoas, dependendo da fonte do cálculo.
Segundo o analista Germán Campos, diretor da empresa de pesquisa Consultores 30.11, ouvido pelo Estado em Caracas, a tendência é que Chávez receba uma porcentagem de votos parecida com a que recebeu na eleição de 1998, na de 2000 – sob a vigência da então recém-promulgada Constituição chavista – e no referendo que confirmou seu mandato em 2004: entre 55% e 60%.
Ontem, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) já tinha instalado 99% das urnas eletrônicas – que a oposição mantém sob suspeita, apesar da aprovação de observadores estrangeiros. O voto não é obrigatório no país e o nível histórico de abstenção é de aproximadamente 30%.
O CNE proibiu a divulgação de pesquisas de boca-de-urna antes da emissão de seu primeiro boletim preliminar oficial. O CNE estima que esse boletim só será divulgado entre quatro e cinco horas após o fechamento da última seção eleitoral.
A votação começa às 7 horas (9 horas de Brasília) e termina às 16 horas. Mas a seção só fecha depois que o último eleitor da fila tenha votado. A urna eletrônica venezuelana emite também um comprovante impresso, com o nome do candidato, para que o eleitor deposite numa urna. O CNE se propõe a contar 54% desses comprovantes, como forma de auditoria do processo eletrônico.
Rosales denunciou várias irregularidades durante a campanha. Entre elas, o abuso do governo, que continua a fazer propaganda de Chávez, apesar da proibição que passou a vigorar desde a meia-noite de sexta-feira.