Mino Carta diz que escândalos são menores que os propagados pela mídia

"A crise vivida hoje pelo Brasil não é meramente política. É moral e intelectual, decorrente das grandes desigualdades sociais do país. E o tamanho dos escândalos é menor que o propagado pela mídia".

Com afirmações contundentes como essas, o jornalista Mino Carta, 71 anos, fez palestra, nesta terça-feira, na reunião da Escola de Governo. Mino Carta criticou duramente a mídia e a elite brasileira, e também repudiou a política neoliberal, na área econômica, adotada pelo Governo Federal.

?Os dados nos mostram a desigualdade nesse país, ponto crucial desta situação que vivemos. Menos de 10% da população têm 60% dos bens; somos vice-campeões em má distribuição de renda. Nesse cenário, como a mídia haveria de ser melhor que o país? Ela sempre serviu ao poder, às elites que são as responsáveis por essa desigualdade e por essa crise?, disse o jornalista.

Destruição

Para Mino Carta, atualmente proprietário da revista semanal Carta Capital, e que foi um dos fundadores de publicações como Quatro Rodas, Veja, Jornal da Tarde e Jornal da República, o papel desempenhado pelos veículos de comunicação atualmente tem sido o de por abaixo a imagem do presidente Lula e o da gestão do PT, com o intuito de destruir qualquer possibilidade de um governo de esquerda.

?Essa crise hoje, em volume de recursos financeiros que vêm sendo falados, está longe de ser a maior crise da nossa história. Querem sangrar o Lula, mostrar que um metalúrgico não dá certo, impedir que ele sequer sonhe em ser candidato em 2006?, salientou Carta.

O jornalista, no entanto, fez questão de ressalvar: ?a política econômica, que segue o modelo neoliberal implementado por Fernando Henrique Cardoso de privilegiar o sistema financeiro, é poupada pela mídia. O Olavo Setúbal (proprietário do Banco Itaú), o pessoal do Bradesco, eles estão muito contentes, acordam felizes todos os dias. Para eles, o (Antônio) Palocci (ministro da Fazenda) e o (Henrique) Meireles são Deus?.

Bom humor

Além da contundência, o senso de humor de Mino Carta deu um molho à palestra; chamou a atenção da platéia e despertou os espectadores para o debate. Um dos momentos em que o jornalista não economizou na ironia foi quando falou com mais detalhes da elite brasileira. ?Uma elite feroz, má, vassala à elite internacional, todavia bastante incompetente?, na avaliação de Carta.

?Enquanto a elite nos países desenvolvidos é uma rica elite que se porta como pobre, a nossa elite é pobre e esbanja, se comporta como rica. Que lugar do mundo tem uma Daslu? A nossa elite chega a ser ridícula, se delicia com viagens a ?Ilha de Caras??, foi uma das frases do jornalista.

Mino Carta não se esqueceu ainda de críticas ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e, sobretudo, ao tratamento privilegiado que o tucano recebe da cobertura jornalística. ?É impressionante como a mídia endeusa esse ?príncipe dos sociólogos??, observou o jornalista, sempre com a pitada de sotaque italiano presente ? Mino Carta nasceu na Itália, mas veio para o Brasil com 12 anos de idade.

Mais críticas

Ao final das explanações do jornalista, o governador Roberto Requião fez coro a Mino Carta às críticas a Fernando Henrique e à política neoliberal. ?O Brasil precisa de um projeto de nação, não de um projeto de mercado. O que temos hoje é uma política para quem ganha dinheiro entre o final da tarde e o início da manhã (entre o fechamento e a abertura das bolsas de valores).?

E opinou sobre os motivos da corrupção de hoje: ?Os parlamentares são corrompidos para se aprovar reformas de Previdência, abertura financeira, flexibilização das leis trabalhistas, medidas impopulares desse projeto de mercado?.

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