Dos dez ministros que participaram do café da manhã em favor da candidatura do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) a presidente da Câmara, apenas dois chegaram em carros particulares à residência oficial da Casa: o chefe da Secretaria de Coordenação Política e Assuntos Institucionais da Presidência da República, Aldo Rebelo, e o das Comunicações, Eunício Oliveira.
Os outros usaram automóveis oficiais. Mas todos saíram com a missão de trabalhar duro nesta reta final da campanha ao comando da Câmara, pedindo votos aos parlamentares dos respectivos partidos.
Apesar da presença de ministros das mais diversas legendas, todos tentaram desvincular o uso da máquina federal em favor de Greenhalgh. "Não há necessidade de interferência dos ministros e eles compareceram em solidariedade aos líderes, que têm a tarefa de mobilizar as bancadas", desconversou Rebelo, negando que os auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva estariam encarregados de liberar recursos orçamentários para acabar com as insatisfações na base aliada.
Como é comum neste tipo de encontro, sobretudo quando estão em jogo a divisão de poder e a força política do governo, as expressões governabilidade e estabilidade democrática foram bastante pronunciadas – a administração federal não poderia perder a disputa, sob risco de criar instabilidade política, que não é desejável nem às siglas de oposição. O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), anfritrião do encontro, foi claro ao afirmar que a convocação dos ministros não representa intromissão do Poder Executivo em assuntos da competência do Legislativo. "Não é um comprometimento do governo, mas do ministro que, como ente político, deve assumir responsabilidade" disse. Sobre se seria também legítimo abrir as portas da residência oficial da Câmara para reforçar a campanha do candidato do PT de São Paulo a presidente da Casa, João Paulo afirmou: "Se alguém tiver dúvida e suspeitas sobre a condução da presidência, pode levantar, que vamos discutir."
Mais que efeitos práticos para consolidar votos a Greenhalgh, a presença dos ministros no café da manhã serviu com um gesto simbólico para mostrar unidade do Executivo em favor dele. Principalmente, pelo fato de o candidato Virgílio Guimarães (PT-MG) ter destacado-se na Câmara como um dos principais negociadores da área econômica do Palácio do Planalto na Comissão Mista de Orçamento e na reforma tributária, além de ser um dos interlocutores diretos do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, no Congresso. Todos os líderes partidários confirmam que Palocci está firme na tarefa de arregimentar votos para Greenhalgh. A exemplo dos colegas, o ministro da Fazenda entrou e saiu calado do desjejum.