Embora elogiado pelo presidente Lula em diversas ocasiões, o que lhe salvou a pele, o ministro da Previdência, Ricardo Berzoini, definitivamente não está em boa fase. Quando tudo parecia serenado, ele inventou de agradar parlamentares e o tiro saiu pela culatra. Não apenas lhe devolveram as gentilezas como o denunciaram em plenário por estar usando da máquina pública em proveito da imagem própria.
O problema explodiu no Senado, no mesmo dia em que a casa aprovava, a toque de caixa, o fim do efeito cascata e o aumento da alíquota da Cofins – a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social, que pulou de 3% para 7,6%. A oposição, que já brigava sob a alegação de ter sido traída sem o “amplo debate” prometido pelo governo, tropeçou sobre o brinde que Berzoini distribuía, através de uma funcionária graduada do ministério, aos parlamentares: um cartão de boas-festas com uma enorme estrela-cometa nos céus do Congresso Nacional, mais um broche enfeitado pelos símbolos do Ministério da Previdência e do governo Lula.
Da tribuna, não faltou senador questionando quem teria pago o brinde. “O que pensarão os velhinhos vendo ouro no peito daqueles que lutaram contra sua aposentadoria?”, exclamou o senador Heráclito Fontes, do Piauí. Às pressas, o líder do PT, Tião Viana, saiu em defesa do colega ministro para informar que o pagamento do agrado teria sido feito pelo Sindicato dos Servidores da Previdência.
Pior a emenda que o soneto. “Que danado de sindicato é esse que paga pelos brindes do ministro?”, replicou Heráclito. História não bem-contada, outro senador – Arthur Virgílio – foi ao microfone para anunciar que estava devolvendo ao ministro Berzoini o presente com um recado: “O botão metálico segue anexo, em devolução, em respeito à ética por não concordar com o descumprimento de uma norma legal, anexa, que impede esse uso indevido do dinheiro público”. O Papai Noel do ministro, Lúcia Carvalho, ainda não terminara a distribuição dos broches, pegou o saco e foi embora…
É claro que a história não ficará assim. Berzoini terá que explicar com que recursos mandou imprimir cartões e cunhar botões doirados para o agrado parlamentar. Pelo visto, repetirá, de forma piorada, o episódio da ministra Benedita da Silva, que com dinheiro público, foi a uma viagem de orações em hotel luxuoso de Buenos Aires. Se o presidente Lula perdoou-lhe os deslizes com os velhinhos acima de 90 anos que queria nas filas de recadastramento a qualquer custo, dificilmente haverá de perdoar-lhe essa outra iniciativa que não rima com a época de vacas magras em que vivemos. Poderá, como da primeira vez, pedir desculpas em público. Mas o ministro azarão já corre sério risco de ser rifado na iminente reforma ministerial agendada para o começo do novo ano.
Admitamos – apenas ad argumentandum – que foi o tal Sindicato dos Servidores da Previdência que pagou a fatura e teremos aqui um nó ainda pior de desatar. Sem falar no rebu interna corporis que isso haverá de causar, não podia o ministro aceitar o agrado, nem usá-lo para agradar terceiros. Pior, muito pior será, se os arranjos forem feitos a posteriori… e não é apenas “fuxico de quem não tem o que fazer”, segundo quer Tião Viana. Não é pelo valor, que pode ser até pequeno, em comparação a outras atitudes perdulárias de um Estado pendurado no bolso dos contribuintes. Mesmo que fosse um só tostão, há um código de ética a balizar estas coisas e, além disso – como na velha Roma – “à mulher de César não cabe apenas ser honesta, é preciso que pareça honesta”.
O ministro da Previdência foi imprevidente. Eis a verdade incontestável. E exatamente no dia em que aumentavam a contribuição para financiar nossa (im)Previdência.
