O Brasil está disposto a não negociar nada na Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), caso não ocorra uma abertura efetiva para os produtos agrícolas do País.
A posição brasileira foi anunciada, nesta segunda-feira, pelo ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, que disse não estar otimista em relação aos resultados da reunião ministerial da OMC a ser realizada em dezembro em Hong Kong.
"Se a negociação for pífia, não interessa ao Brasil. Ou fazemos uma negociação que nos dê vantagens efetivas na área agrícola, ou não fazemos nenhuma negociação", afirmou Rodrigues. Como vantagens ele citou "um horizonte de mercados que se abra com vigor para a agricultura brasileira nos países desenvolvidos".
A Rodada de Doha é o nome dado à rodada de negociações da OMC, e tem objetivo construir um acordo entre os 148 países associados à organização. Rodrigues afirmou que até o momento apenas o G-20 – grupo de países contrários à concessão de subsídios agrícolas nos países desenvolvidos, do qual o Brasil faz parte – apresentou propostas concretas no âmbito da Rodada mas ainda não houve nenhuma reação dos países desenvolvidos.
O ministro explicou que, caso as negociações avancem de maneira positiva para o Brasil na área agrícola, o País poderá abrir contrapartidas no segmento de serviços, como por exemplo com a abertura do mercado de resseguros. "Na linha industrial, temos de avaliar as possibilidades de concessões". Ele disse que considera "fundamental" na Rodada de Doha a discussão sobre acesso a mercados, o que, na avaliação do ministro, ainda não ocorreu.
Crise
As negociações internacionais são apenas parte dos problemas que afetam o setor agrícola brasileiro no momento. Rodrigues alertou que há um conjunto de fatores que sinalizam que a safra agrícola de 2006 deverá ser menor que a de 2005 (114 milhões de toneladas), com menos uso de tecnologia e redução de cerca de 5% na área plantada.
Segundo ele, "há um claro desânimo dos produtores em relação à próxima safra", por causa da crise da renda na agricultura em 2005, "que talvez seja a maior dos últimos 30 anos".
O ministro lembrou que os produtores foram afetados por preços em queda, aumento de custos, quebra da produção e endividamento elevado. Tudo isso, aliado ao "atraso muito grande" nas definições governamentais sobre a prorrogação da dívida dos agricultores e o volume dos recursos de custeio para a próxima safra, levou à redução da renda no campo.