Ministro propõe aposentadoria menor que saláro mínimo

Os trabalhadores autônomos e por conta própria que não têm renda suficiente para pagar R$ 40 por mês para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) podem, no futuro, ter chance de garantir uma aposentadoria menor que o salário mínimo. O ministro da Previdência Social, José Cechin, quer que o INSS crie planos específicos para atender qualquer perfil de segurado, passando a disputar com os bancos públicos e privados esse mercado.

A proposta de criação de um leque diferenciado de benefícios, mais acessível ao cidadão comum, é apenas uma das idéias de Cechin que estarão reunidas num livro, a ser lançado na próxima semana. No trabalho inédito, que pode servir de referência para o novo governo na reforma previdenciária já anunciada pelo PT, Cechin fala dos avanços obtidos, dá o diagnóstico da situação e aponta os caminhos a serem perseguidos obrigatoriamente para que a Previdência Social deixe de ser a grande preocupação fiscal e social do governo.

Pelos dados da Previdência Social, ultrapassa a 40 milhões o número de brasileiros que não são filiados ao sistema. Muitos deles têm renda e talvez não se interessem pelo INSS porque o teto de benefícios é baixo, R$ 1.561,00. Mais da metade desse contingente, no entanto, não tem acesso ao seguro porque não consegue pagar. “A previdência do INSS é cara”, reconheceu Cechin.

Ele explicou que o preço é consequência direta do modelo adotado, que prevê uma enorme diversidade de benefícios acessíveis durante a vida útil do cidadão, como auxílio-doença, auxílio-maternidade, auxílio-reclusão e outros, além da aposentadoria e pensão. O que o ministro defende é que o INSS passe a oferecer, à semelhança das instituições financeiras, planos simplificados de benefícios de acordo com o que o cliente deseja e pode pagar.

Resgate

Um exemplo disso seria um plano que oferecesse apenas aposentadoria e pensão, sendo a poupança acumulada resgatável em caso de morte do trabalhador. O trabalhador também poderia montar um plano de benefícios para o filho, pagando pouco durante mais tempo. “Uma pessoa de baixa renda talvez possa pagar R$ 20 por 30 anos e ter um benefício menor ou pagar os mesmos R$ 20 por um período maior e garantir mais renda na velhice”, argumentou Cechin.

Na avaliação do ministro, para que o INSS pudesse ter esse novo modelo, mais moderno e flexível, seria preciso alterar a lei para permitir que o trabalhador pague e receba menos que um salário mínimo. Também seria preciso flexibilizar o prazo para o acesso aos benefícios, hoje de 30 anos para a mulher e 35 anos para o homem, no caso da aposentadoria.

Setor público

Para mudar o perfil explosivo da Previdência Social do setor público – na qual os servidores se aposentam com pouco tempo de serviço e salário integral -, a proposta do ministro passa por mudança constitucional. Cechin defende que o servidor público não leve mais de aposentadoria o salário integral, mas que o cálculo do valor do benefício seja feito em cima de uma fração do último salário combinado com o tempo no serviço público.

Como exemplo dessa proposta, o ministro cita a Inglaterra, onde a cada ano de serviço público o servidor garante 1/80 do salário. Com 40 anos de atividade, esse servidor inglês só leva de aposentadoria a metade do salário que tinha na ativa. No Brasil, segundo o ministro, talvez seja difícil impor um sistema tão austero, mas o princípio da taxa de reposição deveria ser seguido de tal forma que, dependendo dos anos de trabalho, o servidor tivesse de aposentadoria de 50% a 75% do salário que tinha na atividade.

A instituição da taxa de reposição, de acordo com Cechin  evitaria que uma pessoa que tivesse passado 30 anos na iniciativa privada, e contribuindo para o INSS até o teto, ingressasse no serviço público e com apenas cinco anos de trabalho obtivesse a aposentadoria pelo salário integral, sem ter contribuído para isso. Uma proposta menos radical, segundo Cechin, seria aquela em que o servidor levasse o salário integral apenas com 35 anos de efetivo serviço público. Para os demais existiria uma fórmula, que permitiria um valor crescente, dependendo do número de anos no serviço público.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo