O ministro da Defesa de Israel, Amir Peretz, disse nesta sexta-feira (1º) que apóia um inquérito amplo e independente sobre a atuação do Exército de Israel no Líbano. Tal postura é mais um sinal das cisões dentro de um governo que encara fortes críticas por parte da opinião pública em relação à gestão do conflito.
No início da semana, o premiê Ehud Olmert recusou pedidos por tal investigação, que teria autoridade para afastar oficiais de alta patente. Olmert preferiu nomear uma comissão de investigação com menos poderes, atraindo ainda mais críticas de todo o espectro político. Olmert disse que um inquérito com amplos poderes demandaria muito tempo e paralisaria o Exército.
Em desafio ao premiê, Peretz disse hoje em encontro de seu Partido Trabalhista que apoiaria o chamado inquérito judicial, totalmente independente do governo. "Cheguei à conclusão de que, para garantir um tratamento igual para todos, para garantir que esse inquérito seja transparente, e para manter a confiança do público e do processo de investigação, é melhor que formemos uma comissão independente", afirmou Peretz.
Olmert planeja buscar o apoio do gabinete para a investigação que propôs na quarta-feira. A expectativa é de que sua proposta será aprovada, apesar da oposição de Peretz. Mas as divisões sublinham uma cisão dentro do governo. O público israelense tem exigido um inquérito sério sobre a guerra, que começou em 12 de julho, após um ataque de militantes do Hezbollah em território israelense, que resultou em dois soldados seqüestrados e outros três mortos.
Críticos têm culpado o governo por aceitar o cessar-fogo da ONU sem ter destruído o Hezbollah, ou conseguido a libertação dos soldados capturados. Além disso, relatos de despreparo militar no campo de batalha, e a morte de 33 soldados numa ofensiva de última hora fizeram aumentar a revolta da opinião pública.
Peretz, um ex-líder sindical com escassa experiência militar, tem sido particularmente criticado. Além de ter suas credenciais militares questionadas, Peretz encara uma rebelião entre seus colegas do Partido Trabalhista, que dizem que ele traiu a agenda social da agremiação ao apoiar cortes em gastos sociais para ajudar a financiar a guerra.
Segundo analistas, Peretz estaria apenas defendendo uma posição "moral" a fim de tentar reparar sua liderança. Ele não deve abandonar o governo caso sua proposta seja rechaçada, "mas isso irá criar ainda mais desavenças entre ele e Olmert", acredita o analista político Hanan Crystal. O moderado Partido Trabalhista, de Peretz, controla 19 das 120 cadeiras do Parlamento. O Kadima, de Olmert, 29. Os dois partidos se aliaram há apenas quatro meses em torno do plano de Olmert de retirada de grande parte da Cisjordânia e de estabelecimento das fronteiras finais de Israel com os palestinos. Mas a guerra contra o Hezbollah levou Olmert a engavetar o plano, levantando dúvidas sobre a sobrevivência da aliança.
No total, 120 soldados e 39 civis israelenses morreram durante o conflito. Entre os libaneses, houve, no mínimo, 854 mortes.