O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, disse nesta quinta-feira (24) que insistirá na idéia de cancelar o empréstimo de R$ 497,1 milhões que o BNDES concederá à Volkswagen caso a empresa mantenha a perspectiva de demissão de 3,6 mil empregados na fábrica Anchieta, em São Bernardo do Campo, no Grande ABC. Marinho informou que, a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, convidou a empresa para uma reunião, que seria realizada na próxima terça-feira. Entretanto fontes da empresa disseram, posteriormente,que o encontro será realizado na segunda-feira, em Brasília, também com as presenças dos ministros Guido Mantega (Fazenda) e Dilma Rousseff (Casa Civil).
Ontem, o presidente do BNDES, Demian Fiocca, disse que o financiamento não será cancelado porque as demissões não estão relacionadas ao projeto para o qual o dinheiro foi aprovado, mas sim a um processo de reestruturação da companhia no mundo. Marinho, no entanto, afirmou que é conselheiro do banco e iniciará discussões sobre o assunto na instituição.
"O governo não está admitindo o fechamento da unidade, tanto é que está chamando a Volkswagen para discutir e entender as razões da montadora", afirmou, durante entrevista concedida na Delegacia Regional do Trabalho (DRT), em São Paulo. "O dinheiro do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) financia o BNDES. Para mim, como ministro, não caberá qualquer centavo do BNDES para financiar uma empresa que diz que vai fechar uma unidade no Brasil.
Sobre o número de demissões, Marinho disse que certamente o sindicato e a empresa chegarão a um acordo. "Lá atrás, a Volkswagen também sinalizou com o fechamento de fábricas e depois fez um acordo para garantia de empregos por cinco anos", disse. "Na época, ela disse que não faria qualquer acordo. Isso faz parte de um processo de negociação, que às vezes é muito duro.
Para o ministro, a Volkswagen pode estar blefando. "A Volkswagen é uma grande empresa, está no Brasil há muitos anos e certamente continuará no País", disse. Em sua avaliação, o momento do setor automotivo brasileiro não corresponde ao anúncio do fechamento de nenhuma montadora. Ele lembrou que o governo vem tomando medidas compensatórias para minimizar o impacto do câmbio nas exportações, como o pacote anunciado recentemente pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e uma linha de crédito do BNDES para empresas exportadoras.
"Jamais haverá possibilidade de uma discussão sobre uma unidade específica de qualquer setor, seja do setor automotivo ou outro setor. O que o governo faz são políticas setoriais. Portanto, nos parece que a Volkswagen continua blefando", considerou.
Marinho, funcionário licenciado da Volkswagen e ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Grande ABC, responsável pelo acordo de 2001, pelo qual os empregados conquistaram garantia de emprego por cinco anos, disse não misturar motivações pessoais ou emocionais à situação. "Eu represento hoje o Ministério do Trabalho, assim como já fui presidente do sindicato e da CUT.
O ministro disse não acreditar na possibilidade de a Volkswagen estar se aproveitando do momento político para pressionar o governo. "Não creio que uma multinacional teria tal petulância. Mas pode ser que a VW esteja fazendo chantagem com os trabalhadores, ameaçando o fechamento de uma unidade para que os trabalhadores abram mão das discussões e benefícios conquistados ao longo do tempo.
Marinho fez as declarações após reunião com sindicalistas para discutir as MPs 293 e 294, que reconhecem as centrais sindicais e criam o Conselho Nacional de Relações de Trabalho (CNRT). Ambas vencem no dia 5 de setembro, têm poucas chances de serem votadas pelo Congresso até o fim do prazo e não podem ser reeditadas com o mesmo tom no mesmo exercício. "Portanto, nosso compromisso, se continuarmos governo, é reeditar as medidas provisórias em janeiro", finalizou.
