O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, negocia o depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos para falar sobre as denúncias de corrupção que pesam sobre os dois mandatos dele de prefeito de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo – entre 1993 e 1996 e entre 2001 e 2002. O acerto é discutido com os senadores Efraim Morais (PFL-PB), presidente da CPI, e Tião Viana (PT-AC). A data do testemunho será definida num acordo com o líder da minoria no Senado, José Jorge (PFL-PB).
A parte principal da negociação deu-se hoje, antes do início da sessão que ouviu o empresário Ronan Maria Pinto. Morais, Tião Viana e Jorge fizeram uma breve reunião para tratar da questão de Palocci. O senador do PT do Acre tinha a informação de que os senadores Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e Tasso Jereissati (PSDB-CE), antes contrários à convocação dele tinham mudado de idéia. Com isso, o requerimento do senador Geraldo Mesquita (sem partido-AC) de convocação de Palocci seria aprovado por larga margem.
"Palocci aceita vir. Podemos acertar tudo hoje mesmo e convidá-lo", disse Tião Viana. O presidente da CPI dos Bingos disse que terça-feira (22) votaria o requerimento de Mesquita, mas não queria fazer nada apressadamente e preferia conversar antes com o ministro da Fazenda. Tião Viana, então, ligou para Palocci: "Estou negociando a sua vinda", disse, e ele consentiu. "Vou passar o telefone para o Efraim."
O presidente da CPI, tido pelo governo como o mais parcial pró-oposição dos presidentes de comissões, cumprimentou Palocci. "Parabéns pelo depoimento (na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado). O sr. saiu-se muito bem." Do outro lado, Palocci agradeceu. Morais continuou: "Tem aqui um requerimento de sua convocação que será aprovado. Gostaria de saber se para o sr. está bem votá-lo na terça." O ministro respondeu que sim, que mantinha a palavra dada na CAE, de que quer esclarecer tudo.
Quando deu início à sessão da CPI, o presidente comunicou que votará o requerimento do senador sem partido do Acre terça. O senador do PT e o líder da minoria no Senado, que sabiam de tudo, ficaram quietos. Logo depois da ligação a Palocci, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) foi avisado do que havia sido acertado. Pediu a palavra apenas para cumprimentar os que haviam solicitado ao ministro que esclarecesse tudo. "Eu hoje dei um beijo especial na senadora Ideli Salvatti (PT-SC) por ela ter pedido ao ministro que fale tudo na CPI", afirmou Suplicy.
Foro
ACM, então, explicou por que mudou de idéia. "O ministro Palocci falou o que quis na reunião da CAE. Não teve o contraditório porque aquele não era o foro adequado", disse. "Na reunião da CPI dos Bingos, poderemos perguntar-lhe muita coisa a respeito de Ribeirão Preto. Tem muita coisa do que ele falou lá na CAE que os dados da CPI mostram que não é bem aquilo. Vamos ver", acrescentou.
"Na terça-feira, vamos votar o requerimento. Com ajuda do PT", comemorou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). "Queira Deus que Palocci possa explicar tudo sobre as acusações que seus ex-assessores fizeram. Não queremos desestabilizar o ministro. Mas também não vamos lhe dar um salvo-conduto. Ele terá de se explicar."
No depoimento à CAE, Palocci rebateu as acusações que lhe são feitas. Disse que, na campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não entrou dinheiro de Cuba, ou de Angola, ou das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), as forças guerrilheiras colombianas suspeitas de envolvimento com o narcotráfico. Afirmou ainda que, apesar das acusações de que empresários de Ribeirão Preto contribuíam com um caixinha para o PT, durante o tempo em que era prefeito, jamais houve "mensalão" ou "mensalinho".