O ministro da Defesa, Waldir Pires, negou ontem que controladores de tráfego aéreo de Brasília tenham orientado pilotos americanos do jato Legacy a manter a altitude de 37 mil pés pouco antes de o avião sobrevoar o Distrito Federal. O Comando da Aeronáutica, por sua vez, informou não ter registro desse diálogo em seus arquivos.

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O Legacy teria pedido autorização ao Cindacta-1 para descer mil pés a 30 milhas náuticas (55 km) ou quatro minutos de vôo do ponto em que essa operação devia se processar. O pedido foi negado pelo Cindacta-1.

O Legacy estava a 37 mil pés (12.139 metros) quando se chocou com um Boeing da Gol, no dia 29, o que provocou a morte de 154 pessoas. O choque aconteceu em Mato Grosso, onde o Legacy devia estar a 38 mil pés (12.467 metros) de altitude.

O plano de vôo do jato previa três altitudes diferentes. No primeiro trecho, de São José dos Campos até Brasília, ela era de 37 mil pés. Ao passar pela capital federal, o Legacy devia descer para 36 mil pés (11.849 metros). A 300 km antes do local do choque, o plano previa que o jato subiria para 38 mil pés.

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O ministro não soube precisar quantos contatos foram feitos entre o Legacy e as torres de controle em São José dos Campos, Brasília e Manaus. Pires também admitiu que não ouviu o trecho da fita da conversa entre os controladores e os pilotos após Poços de Caldas (MG), quando o avião se estabilizou em 37 mil pés e teria feito o contato – de São José dos Campos a Poços de Caldas, o jato subiu até entrar na aerovia que o conduziu até Brasília. Ouviu apenas, conforme revelou, os trechos referentes aos momentos que antecederam o choque entre as aeronaves, porque considerou que aquele era o de maior interesse para a investigação.

O delegado Renato Sayão, da Polícia Federal, que está à frente das investigações do acidente, requisitou a íntegra de todos os diálogos e imagens registradas no dia do acidente para submetê-las a perícia e avaliar se houve responsabilidade de controladores do Cindacta 1, em Brasília, no episódio.

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O ministro declarou que haverá transparência nas investigações e atenderá não só aos pedidos da PF, assim como os da Polícia Civil de Mato Grosso, que estão apurando o acidente. Algumas cópias de fitas com diálogos entre o controle aéreo e os pilotos já estavam de posse da PF para avaliação desde o fim de semana. Os nomes dos controladores de plantão no dia do acidente foram repassados pelo brigadeiro Paulo Vilarinho, diretor do Departamento de Controle Aéreo da Aeronáutica (Decea), a Sayão, que quer ouvi-los nesta semana.

Pires disse que "houve descumprimento absoluto do plano de vôo (do Legacy) depois de Brasília". Segundo o ministro, "se, porventura, ele (o piloto) não conseguiu mais entrar em contato, mais do que nunca seu dever é seguir o plano de vôo e descer para 36 mil pés em Brasília e subir para 38 mil pés, no ponto Teres (antes do local do acidente), como estava previsto". E insistiu: "Ele deveria cumprir o plano de vôo mesmo sem conseguir autorização para mudar (de altitude)".

Segundo o ministro, quando o Legacy passou por Brasília, o radar primário indicava na tela que o jato estava a 36 mil pés. O controle não tinha os dados do radar secundário, que indica a altitude com maior precisão, porque o transponder, aparelho que fornece o ‘RG’ do avião no vôo, estava inoperante. "A presunção de todos era que ele estava cumprindo o plano de vôo, apesar de não haver o contato.