O ministro de Hidrocarbonetos da Bolívia, Andrés Soliz Rada, ironizou ontem a tentativa brasileira de atingir a auto-suficiência na produção de gás: "Dizer que em 2008 vão ser auto-suficientes em gás é uma loucura. Há um contrato firmado com o Brasil até o ano 2019, com uma cláusula que chama ‘take or pay’ (que determina que a Petrobras pague pelo gás mesmo que não o consuma). Ou seja, nossas vendas estão garantidas até 2019"
Em evento no Rio, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, confirmou que o País pretende cumprir esse acordo. "Nós queremos que esse contrato continue existindo até 2019. O acordo estabelece o volume (de venda), a forma de medição do volume, como os preços serão reajustados e a quem será entregue. Ou seja, o contrato está em vigor". Ele lembrou que os termos do documento não estão sendo questionados
A principal discussão, nesse caso, refere-se ao preço de venda do combustível ao Brasil. Há uma cláusula contratual que permite a qualquer das partes pedir revisão dos valores
Apesar de o diretor de Gás e Energia da estatal, Ildo Sauer, ter repetido ontem que ainda não recebeu nenhuma proposta de aumento os bolivianos sabem onde querem chegar: Soliz afirmou que usará como referência o preço do principal concorrente do gás no mercado brasileiro, o óleo combustível, que está cotado em US$ 7 50 por milhão de BTUs
Segundo o ministro boliviano, o ideal é que o gás chegue à fronteira com o Brasil custando até US$ 6 por milhão de BTUs (unidade internacional de medida), preço 50% superior ao vigente
Soliz disse que hoje o gás chega à fronteira a US$ 4 por milhão de BTUs, já contando os US$ 0,50 do transporte. Há, depois, um acréscimo de US$ 1,50 para pagar os custos e margens de lucro no Brasil até o preço final em São Paulo, de US$ 5,50 por milhão de BTUs. Ou seja, há uma margem de negociação de até US$ 2 sobre o preço cobrado na fronteira, que poderia subir para US$ 6
"Sabemos que não vamos conseguir isso da noite para o dia, sabemos quão duros são os brasileiros para negociar, mas meu dever como ministro é que os bolivianos saibam que condições queremos", afirmou Soliz
O ministro boliviano reclamou que as negociações com o Brasil estão paralisadas e disse que vai ligar pessoalmente para seu colega brasileiro, o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, para pedir o retorno das conversas