Contrariada com o rompimento, por parte dos usineiros, do acordo que fixou em R$ 1,05 o preço do álcool combustível nas usinas durante a entressafra de cana-de-açúcar, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, chamou hoje (20) representantes do setor sucroalcooleiro para uma conversa. O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, e outros ministros também foram chamados para o encontro.
O governo teme que altas expressivas no preço do álcool elevem os índices de inflação. Outro temor é que falte álcool no mercado interno. Aliado dos usineiros, Rodrigues adiantou que o governo não vai ceder aos apelos do setor para uma elevação do preço máximo praticado nas usinas. "Vamos cobrar do setor o compromisso assumido em janeiro", enfatizou Rodrigues. Ele não quis adiantar, no entanto, o que poderá ser feito se o acordo continuar a ser descumprido.
Na sexta-feira (17), os preços, tanto do hidratado, como do anidro, chegaram a R$ 1,072 nas usinas, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq), ultrapassando o valor R$ 1,05 por litro acertado em 11 de janeiro entre os usineiros e o governo federal. "A situação ficou muito chata para o ministro", afirmou uma fonte da Pasta.
Isso porque, em janeiro, quando os preços do álcool dispararam, Rodrigues e assessores saíram em defesa dos usineiros, disseram que a alta era resultado de uma situação de mercado, e convenceram Dilma e o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva a aceitar o teto em R$ 1,05 para o litro do álcool. Dilma e Lula queriam que o preço de R$ 1,00 acordado em 2003 fosse mantido.
Na reunião de janeiro, Dilma, apesar de ceder, não concordou com a posição de Rodrigues e quis que o ministro "desse um puxão de orelhas nos usineiros", ou seja, que cobrasse do setor compromisso com o abastecimento interno de álcool.
Ela própria criticou o setor durante o encontro, pelo fato de os usineiros defenderem o livre mercado para o álcool. A ministra irritou-se com o fato de os empresários sustentarem que o mercado do álcool é livre e por isso um acordo de preços não poderia ser feito.
Dilma perguntou aos empresários como é que podia haver livre mercado se o setor é beneficiado pela ausência da cobrança da Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico (Cide) e ainda por uma cobrança de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) baixa para os carros a álcool e flex fuel. "Rodrigues foi o fiador do acordo e agora com que cara ele fica?", questionou um assessor do ministro.